sábado, 21 de maio de 2022

Comentando o filme "Klondike - Uma guerra na Ucrânia".

Retratar no cinema uma história que ainda está sendo escrita não costuma criar os melhores filmes. Ao contrário, ela apenas posiciona no centro de “Klondike – A Guerra na Ucrânia” o estopim de um conflito que escalou ao longo de quase dez anos.

Dentro de uma casa, cuja parede da sala é destruída por uma bomba nos primeiros minutos do filme, moram Inka e Tolik. Enquanto eles esperam seu primeiro filho, se veem no meio do conflito entre separatistas pró-russos e o exército ucraniano.

No início, a presença dessa guerra se reflete em alguns incômodos diários, como ter que ceder o carro da família por algumas horas aos separatistas. Porém, quando um desastre aéreo acontece no local, a situação muda.

A diretora baseou o filme no acontecimento de julho de 2014, quando um voo da Malaysia Airlines foi derrubado por separatistas pró-russos na região de Donbass, matando 298 pessoas.

Foram anos de investigação até descobrirem os culpados”, diz a diretora Maryna Er. “E o assunto sumiu da mídia rapidamente, o que foi assustador pra mim, então, eu resolvi contar essa história do meu jeito”.

Mesmo um longa-metragem não documental pode servir como um documento histórico. Para Miguel Chaia, professor da PUC e cientista político, o cinema é uma forma de participação e compreensão da realidade, sendo a Guerra um dos maiores temas do audiovisual, pois afeta a todos; quem produz o filme e quem o assiste.

Qual é o grande acontecimento trágico entendido na sociabilidade, no funcionamento e na organização de uma sociedade? É a guerra. Ela é permanente”, diz.

Os conflitos escalam, mas a essência da guerra não muda. Segundo o professor, “Klondike” não perde força ao retratar uma situação que ainda está em andamento porque o filme é mais uma forma de entrar em contato com o assunto, tornando-o mais elucidativo.

Mesmo que os personagens sejam fictícios, nós estamos vendo uma reincenação da história”.

E Maryna fez questão de mostrá-la, mas refletir sobre ela ao mesmo tempo. Segundo a diretora para fazer um filme anti-guerra é necessário mostrar a guerra de algum jeito. A diretora, porém, deixou de lado a estética clássica de conflitos: explosões a todo momento, jornadas de soldados heroicos, poças de sangue… Ela escolheu o caminho da não-violência e do minimalismo.

Eu quis trazer uma experiência imersiva da guerra através dos movimentos de câmera e da fotografia”, diz, “quando eu não crio um ambiente expositivo, eu deixo a imaginação do espectador fluir, acredito que seja melhor do que mostrar absolutamente tudo”.

Esse filme é minha criação contra a guerra e contra a violência, e eu espero que ressoe com quem assiste”, afirma.

Olhar feminino

A personagem principal do filme é Irka, que resiste, ao máximo, enxergar os horrores da guerra. Como se fosse uma pequena rachadura, Irka insiste ao marido que a parede da sala seja consertada após uma bomba detonar a casa, por exemplo.

Ao ordenhar sua vaca, lhe faz um carinho e pergunta se ela ficou assustada com o barulho. Não entende, ou ignora, o porquê do seu carro estar sendo usado por separatistas. Irka tenta ao máximo se dissociar da realidade, até que, sem escapatória, é diretamente afetada por ela.

Eu vejo muitas “Irkas” por aí, é a clássica mulher ucraniana”, diz a diretora. “São mulheres resistentes, dispostas a proteger sua família e sua própria vida”.

Irka é uma personagem amável, conciliadora, cujo papel principal é mostrar como a guerra, causada por homens, é sempre estúpida.

Maryna compara Irka à própria Ucrânia. Segundo a diretora, um país independente, com a criação da própria cultura, mas cuja história é constantemente interrompida por terceiros.



Ao fim do filme, Maryna dedica-o às mulheres, mas não sem antes mostrar a última cena e a mais emocionante. Na guerra, a destruição também é uma criação.

Fica a reflexão.


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Fonte:CNN.

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