domingo, 26 de agosto de 2018

Refletindo sobre o Livro 'Capitalismo Parasitário - Zygmunt Bauman

Fiz esse post pensando que talvez pudesse ajudar a dar o primeiro starter sobre alguns pontos do capitalismo usando a obra de Zygmunt Bauman como base para a introdução do tema. Para refletirmos em como algumas ideais introduzidas na sociedade foram deturpadas. Apreciem o texto abaixo.



O livro Capitalismo Parasitário do autor Zygmunt Bauman está estruturado em cinco capítulos, o primeiro capítulo fala sobre a imperfeição do sistema capitalista que não consegue conciliar a coerência com a completude, quando age com coerência aos seus princípios gera problemas que não consegue solucionar, e se tenta solucionar os problemas gerados pelos seus fundamentos principais acabam por afastar-se deles, como afirmava Gödel.
O autor, nesse capítulo, faz uma comparação entre o capitalismo e o parasitismo, em que para garantir a sua sobrevivência um parasita busca um organismo saudável e ainda não explorado para que este lhe forneça o alimento necessário, fatalmente prejudicando seu hospedeiro e destruindo suas chances de prosperidade e até mesmo de sobrevivência. Assim como o parasita o capitalismo explora novas formas, novos recursos em busca da obtenção de lucro necessária para alimentar o sistema.
Esse sistema surpreendeu a muitos estudiosos do assunto quando encontrou além da exploração de recursos exóticos uma nova fonte de exploração, a concessão de crédito rápido e fácil para aqueles que buscavam uma maneira fácil e quase que imediata de obter dinheiro, sendo um dos principais exemplos do autor as “hipotecas subprime”.
A capacidade de sobrevivência desse sistema está na perspicácia em que se buscam e encontram-se novos organismos para a exploração a medida que os atuais vão perdendo as forças ou extinguem-se, e na rapidez em que o parasita se adapta ao novo organismo.
O grande questionamento feito é de até quando o capitalismo entrará novas fontes de exploração e até quando essas explorações serão suficientes para garantir um alívio temporário ao sistema e a todos os que sobrevivem em torno dele?
Os capitalistas sempre se manterão em busca de novas formas de obtenção de lucro em busca de adiar a hora em que suas fontes virão a secar, e o farão de qualquer forma e a qualquer custo.
Ainda nesse capítulo o autor coloca como exemplo das formas de exploração dos meios capitalistas e suas conseqüências, a utilização dos cartões de crédito.
Os bancos aproveitam-se da atitude consumista das pessoas que para manter seus desejos de consumo adquirem créditos e mais créditos, acabando por afundar-se em uma dívida sem fim. Dívida que cada vez mais alimenta o capitalismo e engorda os bolsos dos banqueiros.


Contudo, esse tipo de prática que tem levado ao endividamento milhares de pessoas, fazendo com que a inadimplência tome proporções catastróficas, mesmo assim o governo e os adeptos ao capitalismo ainda consideram a “contração de créditos” é a chave da prosperidade econômica.
Para garantir que esse organismo possua uma vida útil ainda maior a solução encontrada pelos Estados que possuem esse problema foi a recapitalização das empresas emprestadoras e a reabilitação de seus devedores para o crédito, para que a normalidade possa ser restabelecida.
O Estado também possui grande importância para a manutenção desse sistema cabendo a ele “Primeiro, subvencionar o capital caso ele não tenha o dinheiro necessário para adquirir a força produtiva do trabalho. Segundo, garantir que valha a pena comprar o trabalho, isto é, garantir que a mão de obra seja capaz de suportar o esforço do trabalho numa fábrica”, conforme afirma Bauman.
O Estado e o mercado andam lado a lado na maioria das vezes e mesmo tratando-se de uma democracia ou uma ditadura a tendência é que o governo caminhe em prol dos interesses do mercado e não contra. A função dele é garantir que o mercado mantenha-se vivo e saudável sempre.
O segundo capítulo do livro intitulado “A Cultura da Oferta” subdivide-se em três partes, a primeira parte trata sobre o tipo de sociedade em que vivemos, uma sociedade em que o valorizamos exageradamente o consumo, uma verdadeira sociedade do consumo que gira em torno de ofertas que geram uma satisfação temporária.
A cultura tem por característica a sua desvinculação dos laços sociais, políticos, éticos, etc. Característica adquirida por meio da criação de incontáveis ofertas, no envelhecimento rápido daquilo que se adquire e na rápida perda de sedução que o objeto gerava no se adquirente.
Critica-se o fato de que os produtos que se consomem se tornam facilmente obsoletos, e com uma facilidade ainda maior, novos produtos se tornam o objeto de desejo por parte dos consumidores que os adquirem para substituir os “antigos”, tornando nossa economia, uma economia da dissipação e do desperdício, conforme afirma o autor.
Os pertencentes à sociedade do consumo possuem uma relação muito desprovida de apego, de determinação e fixação com as pessoas ao seu redor, com as coisas que adquirem, com o que gostam, entre outros. Eles possuem uma facilidade incrível para desapegar-se. Esse tipo de cultura busca constantemente clientes a seduzir e não “pessoas” a cultivar, conforme coloca o autor. A felicidade é sempre encontrada com o ato de consumir e de se desfazer do que foi adquirido, pois este já é considerado obsoleto.
A segunda parte é intitulada “Novos Desafios para a Educação” que versa sobre a crise atual que a educação está enfrentando, crise que traz a tona problemas nunca antes enfrentados, problemas de difícil solução.
No mundo líquido-moderno as pessoas procuram não manter vínculos sólidos com os outros seres humanos, a liberdade é prezada acima de tudo e entende-se que com vínculos sólidos ela é tolhida, limitada de algumas maneiras. Acredita-se que os vínculos sólidos trazem consigo inúmeras obrigações e, conseqüentemente, limitam a capacidade de percepção de novas oportunidades. A hipótese de ser ligado a algo por muito tempo causa medo e pavor, afinal, as pessoas estão acostumadas a se desfazer de tudo com muita facilidade.
Só são quistos os laços e vínculos que possam ser desfeitos a qualquer momento de forma prática e rápida quando já não forem considerados novidade. Procura-se o que é descartável, aquilo que possui “vida útil” muito prolongada não chama a atenção.
A educação não foge a regra, o tipo de conhecimento buscado é aquele que se aprende e se descarta facilmente, a felicidade nesses casos também se encontra do ato de adquirir e se desfazer facilmente, ela também se transformou em “produto”, fator que não favorece a educação institucionalizada.
Outro aspecto ressaltado sobre a educação é o da sua sujeição a todas as mudanças que ocorrem no mundo, mudanças que não têm sido poucas, o que aumenta ainda mais a dificuldade apresentada inicialmente, pois torna o futuro cada vez mais imprevisível. Não há como negar que no mundo líquido as mudanças ocorreram maneira mais rápida do que se podia imaginar.
A educação nasceu na sociedade sólida em que as coisas em geral eram feitas para ter grande durabilidade, nesse mundo a memória era muito valorizada, quanto maior a memória maior o valor. Hoje ela é considerada quase inútil, pois já existem produtos que nos servem de “memória”, mais uma vez o capitalismo transforma algo em produto. O mercado se sobrepõe a tudo, ou pelo menos quase tudo.
O nosso aprendizado passa a ser baseado nas tentativas e erros, estamos expostos a inúmeros estímulos de naturezas diversas que acabam por nos causar uma enorme confusão, estamos fadados a sair de uma confusão e entrar em outra logo em seguida, porque vivemos inseridos no meio delas, o que aprendemos nesses casos é estar preparados para lidar com situações ambíguas e precárias, conforme afirma o autor.
Bauman ainda coloca a diferença entre os empregados do mundo líquido-moderno em contraposição aos empregados do mundo sólido, o primeiro deve ser inusitado, possuir características incomuns que o façam destacar-se dos demais, deve ser flexível, suas características advêm da sua personalidade. Já o segundo apenas precisava seguir as regras ditadas por seus patrões, não precisavam ter grandes diferenciais, haja vista que desempenhariam serviços massivos, duráveis, administrados e controlados de forma rígida. Para atender as demandas exigidas pelo mercado atual são necessários professores que sigam essa característica moderna, professores que venham a ensinar coisas novas e não coisas antigas já exaustivamente trabalhadas, o conhecimento buscado é o “novo”.
Ele critica o excesso de informações a que somos expostos diariamente que possuem uma capacidade impressionante de reduzira nossa autoconfiança, pois dificultam ainda mais o encontro de soluções, resultando na imediata autodepreciação e no autoescárnio. As informações são separadas por graduações de peso cientifico, todas são medidas com o mesmo grau de relevância. Somente a quantidade de informações que uma pessoa pode carregar consigo é que importa, a qualidade e o peso científico pouco importam.
Esse fato gera uma preocupação muito grande para os educadores, pois nenhum deles sabem lidar com um mundo hipersaturado de informações não aprendidas e muito menos de ensinas as pessoas a lidarem com tal situação.
A terceira parte intitulada “A Relação Professor/Aluno na Fase Líquido-Moderna” trabalha com a idéia de que hoje as dificuldades de compreensão entre gerações é cada vez maior, as constates mudanças do mundo líquido-moderno tem potencializado tal situação, afinal, as características presentes na época de cada geração têm sido as mais diversas possíveis, dificultando esse “diálogo” entre gerações. O conforto e o desconforto com fatos do dia a dia são inerentes a cada geração.
A geração atual não dá mais tanta importância para os contatos mais profundos com alguém, com o advento da internet as relações são cada vez mais frouxas, os laços entre as pessoas são cada vez mais fracos e são mantidos ou eliminados através de um só “click”. A internet permite que as pessoas se reinventem o tempo todo e que criem uma nova identidade sempre que assim quiserem.
O terceiro capítulo é intitulado “A Sociedade do Medo” trata sobre os medos causados pelo modo de agir da sociedade líquido-moderna, medos que nos causam uma enorme insegurança, medos que não são enraizados Esses medos são explorados política e comercialmente, sendo interessante para ele que os medos sejam mantidos e a insegurança seja estimulada, pois a partir de tal situação as pessoas passam a consumir coisas ou a acreditar em grande parte das afirmações feitas por parte do governo, acreditando dessa forma poder aniquilar esse tipo de sentimento.
Nessa “nova” sociedade as pessoas pararam de perceber o quanto suas ações refletem na vida de outras pessoas, que certas ações impulsivas e impensadas podem gerar até mesmo algum dano àquele que convivem juntos. Os sujeitos são cada vez mais individualistas e esse individualismo é fonte causadores de inúmeros danos como a perda da autoestima. Ninguém gosta de lidar com a idéia de que as vezes não é quem pensa, gerando um ressentimento extremamente prejudicial para a sociedade, um ressentimento considerado fato causador de conflitos rebeliões e revoltas. Tais sofrimentos são tidos pelas pessoas como uma ofensa pessoal que só seria amenizada com uma vingança pessoal. Essas desigualdades que a sociologia procura amenizar.
Bauman apresenta-se de certa maneira esperançoso com relação a construção de uma sociedade melhor para todos, para ele o mundo pode ser um lugar mais agradável de se viver, ele acredita que através da sensatez e da dignidade o homem possa fazê-lo.
O quarto capítulo recebeu o nome de “O Corpo em Contradição” e trata das reações que nosso corpo sofre mediante os desafios e as contradições presentes no nosso modo de vida. O autor coloca a anorexia e a bulimia como exemplos de patologias cada mais freqüentes e relacionadas com a sociedade atual, tratam-se de reações patológicas que tem como principal causa a dificuldade em encontrar soluções para os dilemas e duvidas constantemente presentes em nosso meio.
O quinto capítulo chama-se “Um Homem com Esperanças” nele Bauman coloca, principalmente, a sua dificuldade de caracterizar-se como alguém pessimista ou otimista, pois não acredita se encaixar em nenhum desses pólos. Ele coloca-se como um pertencente à categoria dos “homens com esperança”, um homem que acredita que os homens são capazes de tomar decisões e que suas escolhas podem ser boas a ponto de criar um mundo melhor.

domingo, 19 de agosto de 2018

Earth 9 - As Mais Belas Paisagens.

Oi pessoal, na nossa coluna Earth da vez preparei um vídeo especial que mostra diversos pontos desse mundão que são incrivelmente deslumbrantes. Aprecie!!!


domingo, 12 de agosto de 2018

Livro O Inferno Somos Nós: Do Ódio á Cultura de Paz - Leandro Karnal e Monja Coen.

Em tempos adversos, de crise, preconceito e intolerância, como transformar o ódio em compreensão do outro em suas diferenças? Como sair de um cenário de violência e construir uma cultura de paz? O historiador Leandro Karnal e a Monja Coen, fundadora da Comunidade Zen-budista do Brasil, conversam nesse livro sobre essas e outras questões. Os autores lembram que o medo pode estar na origem da violência e apontam como o conhecimento, de si e do outro, é capaz de produzir uma nova atitude na sociedade, menos agressiva e mais acolhedora.

Também poderá gostar de:  Livro Todos Contra Todos Leandro Karnal.

domingo, 5 de agosto de 2018

Livro Os Judeus do Papa - Gordon Thomas.


Um livro revelador que demonstra como o Vaticano salvou milhares de judeus durante o Holocausto e elucida por que razão a história deve reabilitar o Papa Pio XII. Acusado de não ter condenado Hitler pelo fanatismo e ódio racial com que o führer governava a Alemanha, o chefe da Igreja Católica Romana ficou conhecido, durante a Segunda Guerra Mundial, como «o Papa que se manteve em silêncio durante o Holocausto». Contudo, Thomas Gordon apresenta neste livro provas que refutam totalmente essas acusações. Uma pesquisa minuciosa revela uma rede encoberta de padres, freiras e cidadãos católicos que diariamente arriscaram as suas vidas para proteger os judeus. Ao investigar assassinatos, conspirações e conversões secretas, o autor dá a conhecer as mais extraordinárias ações levadas a cabo por católicos e pelo Vaticano. Em "Os Judeus do Papa" encontramos, finalmente, a resposta à grande questão moral do Holocausto: por que razão o Papa Pio XII se recusou a condenar o genocídio dos judeus da Europa? Pio XII não foi «o Papa de Hitler», mas sim, muito provavelmente, o mais perto que os judeus estiveram de ter uma voz no Vaticano.

Os judeus do Papa traz um levantamento histórico que aponta o que de fato ocorreu no Vaticano nos anos em que Hitler assassinou milhares de judeus, mas verdade seja dita, e o próprio autor do livro diz: “nós nunca iremos saber todos os acontecimentos, pode ser que mais para frente possamos ter mais dados sobre o ocorrido já que o Vaticano tem liberado alguns dados no decorrer dos anos.”

O interessante do livro é ver um novo ponto de vista sobre os acontecimentos da época, desta vez vemos o que acontecia no Vaticano e como o Papa até hoje visto como omisso, ajudou os judeus por debaixo dos panos. A crítica em maior parte se deve a falta de um posicionamento conciso e aberto contra o regime nazista de Hitlher, entretanto o livro apresenta como, por ordem do pontífice, que o país passou a abrigar as escondidas refugiados da guerra. Além disso, foi por ordens partidas do Vaticano que a igreja passou a fornecer e a auxiliar a produção de identidades falsas para a fuga de judeus para outros países e/ou continentes.