Quem se deslumbrou com a maestria narrativa de Torto Arado, romance que converteu Itamar Vieira Junior em um dos nomes centrais da nossa literatura contemporânea, vai encontrar neste Doramar ou a Odisseia ainda mais motivos para celebrar a ficção do autor. Num diálogo permanente com nossas questões sociais e a tradição literária brasileira, Itamar enfeixa um conjunto de histórias a um só tempo atuais e calcadas na multiplicidade de culturas que formam o país. Lidas na sequência, atestam a vitalidade de um escritor que encontra uma boa parcela de inspiração em personagens que desafiam os limites que lhes foram impostos e abraçam a existência em toda a sua plenitude.
Resenha
Com seu primeiro romance, Torto Arado (Todavia, 2019), o escritor baiano Itamar Vieira Junior conseguiu um feito raro na literatura brasileira contemporânea. Conciliou o clamor do público, com mais de 165 mil exemplares vendidos, e a exaltação da crítica,além do Jabuti e do Oceanos no ano passado. Agora o autor de 41 anos coloca o sucesso à prova com Doramar ou a Odisseia: Histórias, sua terceira compilação de contos e segundo título publicado por uma grande editora, a Todavia.São 12 histórias, sete publicadas anteriormente em A Oração do Carrasco (Mondrongo, 2017), finalista do Prêmio Jabuti, que foram retrabalhadas para o lançamento, e mais cinco contos inéditos em livro. Geógrafo e servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Itamar, como em sua obra anterior, aborda temas como a luta agrária, a falta de acesso à cidadania e as mazelas da escravidão, inspirado em suas viagens pelo sertão nordestino, incluindo passagens por comunidades quilombolas.O conto inédito Alma foi baseado em uma história real que o autor escutou durante uma visita a Tijuaçu, no interior da Bahia. A personagem-título deixa o cativeiro durante a escravidão, no século 19, e, como fugitiva, atravessa a pé centenas de quilômetros e uma miríade de paisagens no estado da Bahia até se fixar em uma comunidade no sertão. Já em Oração do Carrasco, agora reeditado, o autor imagina uma sociedade totalitária que, de forma alegórica, remete ao Brasil atual.
Os conflitos, a consistência narrativa e o trabalho de oralidade na linguagem renderam ao autor comparações a Graciliano Ramos (1892-1953), José Lins do Rego (1901-1957) e Guimarães Rosa (1908-1967), escritores regionalistas cuja influência Itamar reconhece. O que lhe parece mais próprio, enquanto um autor homem, é o protagonismo de mulheres empoderadas que sofrem com e combatem o sistema de opressão de nossa sociedade patriarcal. "Isso tem uma relação muito forte com a minha família, que tem muitas mulheres nesse embate constante com o patriarcado e o machismo, tendo de assumir suas famílias de maneira solitária, muitas vezes sem a presença dos homens. E algo que eu admirava era a imensa força e coragem que elas tinham para não desanimar", diz Itamar.
Já trabalahando em sua obra sucessora, que promete, formará uma trilogia.
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