"Sou
ateu e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos."
(Drauzio Varella).
A
humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou
fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não
sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde
iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.
Dono
de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável
na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas
sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última
batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do
medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a
acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.
Os
religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode
discordar de sua visão devem pensar que eles também são ateus
quando confrontados com crenças alheias.
Na
realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de
falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na
encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando
encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que
teria dado à luz ao filho do Senhor?
"O
ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser
pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções." Não é
outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores
qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo.
Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem
reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam
cometidas as piores atrocidades.
'Os
pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são
tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com
a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque
obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam
considerados mensageiros de Satanás.'
Ajudamos
um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais
nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas,
não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo
recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do
homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como
demonstraram os etologistas.
'O
fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar
contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a
sociedade - quando não semeia o ódio que leva às perseguições e
aos massacres.'
Para
o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios
morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão,
preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam
absurdo.
Fui
educada para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a
mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas
contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne
intolerante, autoritária ou violenta.
Ótimo texto. Sem muitas delongas disse tudo que precisa ser entendido. Nem precisa ser um bom entendedor.
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