Olá pensadores, essa semana assisti e analisei a duas obras cinematográficas que traz uma reflexão sobre tabus e crises existenciais. Curiosos?
High Life - Uma nova vida
Há um certo clima de horror inerente em High Life. Logo na primeira cena, em uma conversa de Monte (Robert Pattinson) com sua filha, a câmera de Claire Denis parece gerar uma expectativa. A relação entre os ambientes, a perda de uma ferramenta, os computadores apitando. Tudo nessa relação espacial gera uma correlação meio tensa, nervosa de um universo destroçado. A vista do mesmo personagem a outras pessoas mortas dão ainda mais uma certeza de um medo. Mas o que e qual seria esse medo afinal? Bom, o terror provocado aqui é relacionado a nossa memória, ao passado de forma a gerar um fardo para os personagens.
No presente, o filme acompanha a história de Monte no espaço, mas também lembrando os acontecimentos que o levaram até ali. Sua ida para o espaço se deve a um programa do governo de levar criminosos para fora da Terra, com objetivo de realizarem uma missão. No comando de todos, Dibs (Juliette Binoche) passa o tempo tentando entender e perceber os instintos selvagens de cada um.
Esse horror toma conta de cada relação, cada conversa presente. Existe até um grande nível de estresse pelo lugar causado aos personagens – salientado pelos big closes em mãos, testas, olhos -, passado ao público. Tudo parece estar a um ponto de explodir nesse passado, algo salientado ainda mais por um presente complexo.
Entretanto, ao alcançar o futuro, o peso dessas escolhas e decisões deixam o personagem principal um pouco refém do tempo. Claire Denis foca, inclusive, em um lado mais observativo de Pattinson, ao parecer se questionar do que realmente aconteceu e de seu papel nisso tudo. Existe também um laço de falar sobre paternidade. Todavia, tais fatos acabam sendo mais passáveis adiante por causa de um conceito maior desse tempo sendo um fardo. Os relances anteriores acabam se potencializado no presente.
A tentativa de um debate mais aprofundado filosoficamente traz a história um elemento meio confuso. Quando se deixar tudo acontecer quase em preceitos aleatórios (algo muito presente no segundo ato) ocorre uma maior funcionalidade e naturalidade narrativa. Todavia, principalmente próximo ao fim, há uma tentativa de rememorar ‘Solaris’, de 1972, ao trazer quase uma eventualidade da morte e da loucura. É um caminho quase genérico, acontecido de maneira meio despretensiosa.
Enfim, “High Life” é confuso, (tanto pelo seu enredo complexo, quanto seus acontecimentos não lineares), mas talvez ainda mais intenso que esse sentimento, é a tristeza avassaladora que acompanha a sua odisseia espacial. Este é um estudo sobre aqueles que estão radicalmente sozinhos no mundo e acaba por se transmutar em algo maior e mais complicado, um grito gutural de reprodução em harmonia com um poema épico sobre o mergulho da Humanidade no ominoso desconhecido. Nas palavras da realizadora, é também um filme sobre ternura no espaço, sobre fidelidade, sinceridade e confiança. É um retrato do laço que une o pai e uma filha, o afeto e o amor que sobrevivem e perduram mesmo por entre a brutalidade de que o ser humano é capaz. Pode ser difícil encarar os seus mistérios, mas há glória cinematográfica à espera dos espectadores que aguentarem e foram generosos o suficiente. No final, a Terra está longe, talvez não exista, talvez tudo tenha morrido. No fim, só existe um pai, uma filha, e uma linha amarela. O infinito, o desconhecido abre seus braços negros e abraça-nos no reconforto do seu horror e da sua maravilha. Deixemo-nos ser abraçados.
Durante uma de suas corridas matinais pela cidade, Finch se depara com Violet em cima de uma ponte. A jovem perdeu a irmã e ainda não aprendeu a lidar com a ausência. Seus amigos não entendem a duração do luto e a própria Violet prefere se afastar até das atividades escolares. A relação entre ela e Finch se fortalece quando eles precisam fazer um trabalho em dupla sobre os "lugares incríveis" de Indiana.
A amizade dos dois cresce, Finch quebra a casca criada por Violet para se proteger apenas por saber ouvir e tentar se colocar no lugar dela. "Por Lugares Incríveis" é um filme sobre empatia, sobre se enxergar nos outros, mas também é um filme sobre saúde mental e doenças sociais.
Enquanto Violet é transparente em sua dor, Finch esconde a sua atrás de citações inteligentes e tiradas espertas. Aos poucos vamos, juntamente com Violet, conhecendo o personagem. O contraste entre eles é curioso e confere profundidade à trama. Algumas descobertas parecem repentinas, mas talvez seja assim que a vida funcione nesses casos; é aquela velha história de que a depressão não tem rosto e pode estar escondida por trás de sorrisos e piadas.
No início o longa é dinâmico e de cara fala para que veio, conforme a trama vai passando a história vai se arrastando até chegar ao final quase previsível. Enquanto Violet vesti uma couraça para o mundo exterior, Finch tem um olhar sofrido como se já tivesse vivido tempo demais.
Jennifer Niven cria ótimos personagens, complexos e encantadores, para mostrar ao mundo que os dramas adolescentes vão além da popularidade na escola. É também um alerta que nunca houve tantos problemas a serem enfrentados pelos jovens como há atualmente.
"Por Lugares Incríveis" é divertido, adorável, mas também é pesado sem se tornar explícito. O filme, assim como o livro, mostra que nunca se sabe pelo que o outro está passando, qual a dor de cada um.
Obs:Tenho que parabenizar a Netflix por estar fazendo filmes cada vez mais com uma pegada psicológica seja com temas clichês ou conceituais.
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