domingo, 5 de julho de 2020

Resumo do livro: O Silêncio dos Livros - Fausto Luciano Panicacci


Esta obra pinta o mais provável dos futuros se continuar seguindo tais caminhos.
Parte: 1 (Portugal)

Ter Livros é Crime. Denuncie.

     “Era a última tarde do inverno e o vento embrenhava-se nas rachaduras do muro quando ela atravessou a rua sob o céu cinza, os olhos baixos evitando a placa sombria. Era um daqueles períodos da História tão tragicamente adultos que o absurdo só se faz visível aos olhos da infância: num mundo de sinal invertido, a base da montanha é seu ponto mais alto, e o pico, o vértice do abismo; não poderia por outra razão, o que ali se passou só poderia mesmo ser contado pelos olhos de Alice.” (fragmentos do livro).

     A menina vinha da escola e a estrada era lotada de placas do tipo “Ter livros é crime. Denuncie.” até no bosque e isso lhe causava uma certa angústia. Não entendia como um monte de folhas velhas com dedicatória poderia fazer algum mal. Como poderia ser banido. Sentia-se bem quando ouvia histórias, principalmente, quando sua avó lhe contava. Mas agora era estava transgredindo a lei ao guardar esse bem. Chegando em casa envolta em seus devaneios ouvira o som inconfundível fragmentadora de papel, sua preciosidade fora tritura sem piedade por sua mãe. A menina chorava torrencialmente abraçada as partes de trituradas que outrora fora um livro, restando apenas as memórias das histórias contadas por sua avó. Agora a menina estava completamente só.
     Outro dia fazendo o mesmo percurso de costume pelo bosque percebeu o palacete estava aberto, curiosa e astuta que era fora conferir quem seria seu novo vizinho. Acercou-se da cerca de madeira e ficara espionando até ver um homem senil. Aproximara cuidosamente com seu caderninho (hábito pelo qual sofria bullying) até o homem e começara a falar sobre sua gata, doninha do bosque, as histórias que a avó contava… Os pais sempre davam a desculpa de estarem sem tempo, e as histórias da escola nunca tinha rumo fixo sempre ficavam mudando o enredo a todo momento. Isso irritava-a por isso preferia livros. Por fim se apresentaram, ela como Alice, mas todos a chamava de “menina”, ele por Santiago Pena. Ela voltara para casa numa manhã seguinte porque sabia que teria alguém para conversar. Mal sabia ela que amigo mudaria sua vida para sempre. A menina acompanhara o pai ao palacete de Santiago para dar boas vindas em nome da família Crástino. Para a alegria da menina, Santiago, passou a frequentar sua casa. Ela posta de lado por todos da família (como um objeto que perdera a graça). Em um jantar na casa dos Crástino, Santiago, ele convidou a todos para uma exposição no centro de fotografia. Que por sinal também estava sendo banida principalmente a impressa, qualquer conteúdo visual e intelectual teria que ser facilmente manipulada ou sofreria duras penas da lei. A conversa foi esquentando e Santiago, desconversou perguntara sobre o porque da menina passar pelo bosque sendo a estrada mais segura e alegaram que já falaram várias vezes com ela sobre isso. Ele também estava intrigado em porque a menina foi para uma escola tão longe de casa e a resposta não poderia ser tão simples: “foi o aplicativo que escolheu”. Não levaram em conta a distância, deixaram tudo por conta de um aplicativo que faz escolhas aleatórias segundo o pai. Santiago ainda fora ridicularizado pelos demais. Nisso chega a menina com suas bonecas pedindo a ele que lhe contasse uma história os pais tentaram ignorá-la, mas o convidado interveio e fez sua vontade. A menina ficara encantada lembrara da sua avó e do seu tio que liam para ela de maneira igualmente mágica. A cereja do bolo foi o truque com a corda para que as bonecas não arrastassem no chão. Despedira-se e voltou para seu palacete.
Horas depois a polícia cercou seu palacete.
     A menina ficara parte da madrugada anotando tudo o que lembrava da história, pensara nele como o “avô de letrinhas”. Queria saber quem era o tal Hilário Pena. Qual seria a história que estaria no caderninho dele? Ela mal poderia imaginar, mas teria de crescer muito ainda para desvendar a história.

Parte: 2 (Brasil, muitos anos antes..)
Agora vamos falar de Hilário e seu percurso para se tornar Santiago.

     Hilário Pena, neste tempo tinha vinte e dois anos.
Em um dia frio em São Paulo, fora encontrar com seus amigos. Distraiu-se com a discussão da mesa ao lado, sobre proibição e queima de livros, enquanto seus amigos não chegavam. Na época ele não possuía nenhuma relação com o mundo da literatura. Marcado pela miséria da infância ao bullying sofrido na faculdade de engenharia por roupas muito simples. Chegaram os seus colegas de trabalho parabenizaram-no rapidamente pela promoção no estágio e logo o deixaram de lado. Ele circulava bêbado pelo bar quando viu a notícia sobre a nova medida de redução da criminalidade que, consistia em um exame que mapeava o gene violento do indivíduo, prevendo os crimes mais graves. Estava meio desatento ao noticiário diferente dos seus amigos se encantaram com o decreto.
     Tudo aconteceu em segundos, logo ouvira alguém berrando um aterrorizante “não”, a seguir a pele sendo rasgada. O homem da mesa ao lado estava se esvaindo em sangue. Hilário pena, tinha nas mãos uma garrafa quebrada.
     Acordara numa cela com uma ressaca monstruosa e sem realmente lembra do ocorrido. Todas as suas memórias estavam envoltas em névoas. Tentara lembrar de como foi parar ali sozinho, pois segundo ele só defendera o amigo. No dia seguinte recebeu seu advogado, Carlos Castelo, que era do Estado. Até então Hilário, pensara era um advogado da parte de seu mentor senhor Andrada. Pois ele veio se informou do caso e pedira para nunca mais ser incomodado e saiu sem vê-lo. Os amigos dele deram depoimento alegando que, depois da confusão fora Hilário que quebrou a garrafa e fincou no pescoço do homem. Ao saber dos depoimentos dos até então ‘amigos’, ficara em completa fúria, ele acreditava cegamente que fora um ato de defesa nada mais que do que isso.
     Na sala além do advogado haviam dois agentes alegando que fizeram exames genéticos para testar sua tendência criminosa. Por os testes acusarem negativos para o gene-C, ele escapara da pena de morte, mas ficaria preso até os testes serem mais conclusivos. Fora o único no sistema de criminologia a dar negativos. Estava completamente só, em uma prisão de estrangeiros de nome Babel. O advogado dissera que naquela penitenciária havia uma biblioteca, mas essa era um lugar em que Hilário passaria longe
Meses depois chegara o primeiro julgamento. Não havia nenhuma testemunha para ajudá-lo além do advogado do Estado. O mesmo incentivara a tentar sensibilizar o júri. O julgamento foi adiado por um documento do Grupo Especial de Trabalho da Comissão.
     Semanas se passavam e Hilário e o advogado exausto, tentava achar uma brecha plausível. Explicara que o Ministério da Polícia Criminal tinha solução para quem fosse preso sem o tal gene-C. Havia as mais diversas teorias, mas na falta de provas continuaria preso.
     Tempos depois houve o segundo julgamento. Fora interrogado duramente, mas mais insistira que fora somente para defender seu amigo. Quando passou para seu advogado que expôs todas as suas mazelas perguntara se estava arrependido Hilário, respondera que não e era uma questão de honra.       A seguir vieram várias testemunhas alegando que Hilário tinha um comportamento estranho e seria capaz de matar. Sem chances de dar sua versão, Hilário fora condenado até que os exames apontassem que ele possuía o tal gene-C, e seria executado. Saíra do tribunal direto para a penitenciária Babel, sem compreender como ele foi parar nessa situação.

     Um certo dia em um de seus banhos de sol notara algo escrito no cano do pátio como “não morra aqui”, seguiu-o por vários pavilhões até chegar numa porta com uma placa escrita “Biblioteca” em vários idiomas. De repente o silêncio fora quebrado, lembrara que havia passado da hora de seu banho de sol. Ele ficara sabendo era famoso em Babel. O atendente se empolgara apresentando os mais diversos livros, mas Hilário o dispensara e foi correndo para sua cela, porque os outros estavam no pátio.

     Anos se passaram, as empresas começaram a ter autorização para vender kits de teste do gene-C. Todos os pais tetavam seus filhos com medo que tivessem. Os laboratórios não deram conta da demanda desenfreada por testes. Surgindo, assim, o contrabando dos kits e uma nova onda se fez. Com manipulação genética os laboratórios podiam criar filhos “perfeitos”, logo as expressões lebenborn (fonte da vida), pureza racial, voltaram a ser mencionadas.
     Hilário tinha vinte sete anos, quando recebera a última visita do advogado e agradecera pelos seus serviços durante todos esses anos. Perguntara sobre as imagens gravadas no dia fatídico. O advogado estava sendo ameaçado e sofrendo pressões externas.
     Deste modo diria o que continha nas gravações assim que Hilário parasse de acreditar nas histórias que inventara para si próprio. As imagens mostram Hilário escondido e de depois da briga o mesmo chutando o homem, quebrando uma garrafa e cortando o pescoço da vítima. Mesmo assistindo as imagens, continua a alegar que ele que era a vítima e o homem estava armado, e sim poderia matar seu amigo. O advogado fora suspenso pelo caso e por ser contra a pena de morte. Na manhã seguinte o encontraram morto. Começara a queima de arquivo assim Hilário pensara.
     A neurose o possuía qualquer coisa era motivo de complô. Distraía-se com um jogo de xadrez que ganhara dos guardas.
Uma nova avaliação foi realizada. Em uma sala macabra onde os agentes digitalizaram suas impressões digitais, respondera uma série de perguntas e colocara seu número de presidiário. Concluído o teste Hilário vira na tela a palavra “negado”. E na semana seguinte o mesmo. Dessa vez ficara extremamente arrasado. Em pleno desespero cortara o cobertor em tira amarrara no pescoço e saltou.
     Hilário, acordara no hospital horas depois. Lá o médico explicara que quando saltara o cobertor arrebentou e batera com a cabeça, tendo uma concussão. Semanas depois quando voltara a para cela descobrira que havia um vizinho e ficara enormemente feliz. Conhecera então Antônio Aldo Antunes Santos de Almeida, que ficara extremamente grato por ter sido salvo do incidente no pátio momentos antes e contara como fora preso por importar livros. Hilário, por sua vez contara suas mazelas, sua história até então. Estava curioso no porque seu vizinho de cela fora parar naquele pavilhão se não tinha o gene-C, e não era violento. Ao contrário tinha dinheiro e muita influência por isso conseguira aquela cela privativa.
     Hilário estava a mais de quinze anos sem contato com o mundo, não fazia ideia das reviravoltas que a sociedade dera. Os livros foram terminantemente proibidos e surgira o “modelo G.A.T.E”. Certos comportamentos que pensamos ter sido apagados no imaginário coletivo voltaram a se repetir como: depredação de livrarias, queima de livros… Nada impresso era permitido. A parte boa era que no Brasil, tudo continuava na mesma, a proibição não chegara. Ficara intrigado com a quantidade de dinheiro que poderia ganhar importando livros para as terras tupiniquins e outros países. Diante da empolgação de seu amigo falando sobre de como herdara o gosto pelos livros, Hilário contara que ali, em Babel, havia uma biblioteca. Em seguida correram para lá, e viram-na em estado de abandono com camadas de poeira e mofo. Antônio, ficara fascinado pelas raridades que encontrara já Hilário, só acompanhara-o, mas pegara um livro que continha exercícios de matemática anotado para ler a noite.
     Passara a noite lendo e pensara ser desnecessário todo aquele drama que o personagem vivera. Antônio achou um absurdo tal simplória resenha que seu amigo fizera a um clássico e empolgara-se. Perguntara o porque de Hilário desprezar tanto a biblioteca estando ele a muito tempo preso. Simplesmente porque para ele era só um lugar empoeirado com um amontoado de papéis, nada muito profundo que desinteresse. Antônio propôs-se a organizar e arrastar seu amigo para ajudar. Conseguira horas a mais fora da cela e fizera todo o cronograma de limpeza e organização na mente, era a empolgação em pessoa. Na releitura indicada por seu amigo, Hilário enfim percebera toda poesia que antônio descrevera antes. Trabalhavam arduamente na faxina e organização da biblioteca e se deleitavam nas relíquias que lá ainda existia. Depois do toque recolher mais uma madrugada leitura, estava começando a compreender o universo literário para o contentamento de Antônio. Ele explicara o significado de “festina lane”, (apressa-te lentamente), expressão complexa cujo os termos antes de se anularem, complementam-se. E falara de onde veio seu segundo nome “Aldo”, que era de um editor chamado Aldo manuzzio.
     O tempo passara com uma certa leveza.
     Hilário renascera através dos livros.
     Enfim chegara o dia da reinauguração da biblioteca, que não teve nenhum tipo de festejo, com só uma nota interna dizendo haveria livros disponíveis. Demorou um cerco tempo para haver algum leitor.
     A noite Hilário recebera um caderninho que Antônio encomendara ao seu advogado e contara da dificuldade em obter esse item praticamente proibido.
Um dia chegaram na biblioteca e perceberam que as prateleiras haviam sido trocadas por madeira de cerejeiras. Foi um gesto de agradecimento dos outros presos. O cavalete lotara diariamente de indicações de leitura e mensagens de apoio. Hilário começou a sentir-se útil, em ter um propósito na vida.
     Antônio fora solto, mas antes de sair entregara para seu amigo uma coordenada para quando ele sair, algum dia, se dirigisse a tal local. Hilário continuava em sua missão na biblioteca que tinha cada vez adeptos. Começara a ler os livros não catalogados, obras raríssimas, os livros tornaram seus aliados contra o tempo e solidão. Nisto passam-se mais quatro anos, Hilário Pena agora tinha quarenta e dois anos, e mais exame a fazer. Desta vez, só havia um agente na sala, e o resultado apontou “negado” novamente. Em poucos dias retornou a sua rotina e percebera que levaria mais de uma vida para ler todos os livros que listara. Longe da civilização caótica onde proibia-se livros, em Babel, o silêncio dos livros reinava como música a cada virada de página e cochichos. Assim, passara dois anos.
     No dia seguinte escutara gritos em vários idiomas, tinha um mau pressentimento e fora a biblioteca. Lá vira os livros sendo retirados e levados para uma incineradora. A proibição aos livros havia chegado a Babel. Hilário voltara a ficar deprimido e com pensamentos perturbadores. Pensando no passado e se deu conta que os personagens que criara para si mesmo eram totalmente inconsistentes. Lento e gradualmente a ficha foi caindo. Eis que finalmente admitira que matara Eduardo Inocêncio, o homem da mesa ao lado. Havia passado mias três anos em meio a remorsos e realizou-se seu último teste. Ao retorna a cela recebera a notícia que o surpreendera, estava livre graças a um alvará de soltura. Saíra da penitenciária com roupas doadas e um cartão de transporte.
     Saindo de Babel, no ponto de ônibus em frente vira um carro parar do outro lado e teve a sensação de ser seguido. Pegara o primeiro ônibus que aparecera. Quando soltara do ônibus, logo avistou o individuo do carro correndo atrás dele dizendo que era advogado de Antônio e acompanhara todo seu caso. Explicara que houve um desencontro da parte dele, ele chegara minutos depois de Hilário ter saído da penitenciária, e tinha instruções para levá-lo até o senhor Antônio Aldo em Portugal. Ele concorda em ir com uma condição a de ir na casa do homem que matara. Lá encontra a mãe de Eduardo, uma senhora de memória bastante debilitada. A lucidez vinha como ondas do mar, hora lembrara que o filho estava morto, outra que o filho ia chegar a qualquer momento da faculdade. A senhora arruma a calça de Hilário e em seguida o olhara como o reconhecesse, como o homem que assassinara seu filho.

     Enfim pegar o avião para Portugal, para rever seu amigo estava muito fraco no hospital. O encontro foi repleto de comoção e nostalgia, mas sobretudo de instruções sobre seus bens que Hilário herdaria. Antes de seu último suspiro Antônio, pedira que ele fosse até as coordenadas que, um dia, entregara-o.

     Caminhando pelas ruas do Porto, encontra um cartaz com o seguinte comunicado: Esterilização preventiva: denuncie portadores do gene-C”.

     Ruas desertas, lixo, fedor, indivíduos voltados para seus eletrônicos. Ao olhar ao redor sentia que o tempo roubara-o a jovialidade, o viço. Observara as pessoas como um verdadeiro sociólogo, um filósofo. Flagrara-se constantemente comparando sua juventude interrompida com os novos tempos.

     No dia seguinte acompanhara o velório de seu único e verdadeiro amigo, Antônio, a distância. Só lhe restara o silêncio. Recompôs-se e acompanhara o advogado até o seu escritório havia detalhes acertar e instruções a Hilário. A primeira delas era deletar toda e qualquer tipo de prova do crime pela lei do esquecimento. Segundo mudar o nome de Hilário para Santiago Pena de Jesus. E terceiro e mais importante nomear a fundação que seu amigo dissera para criar, colocara “Fundação Cultural A.S.A.

     As coordenadas dava em uma vinícola chamada “Quintas dos Imortais”, uma das propriedades que pertencia a ele agora. Ficara encantado com a cidadezinha. Chegando na vinícola, teve acesso ao portão e casa, mas o gps dizia que não havia completado todo o percurso. Dentro da casa tinha uma estante com livros falsos e uma alavanca, Hilário ria do clichê que seu amigo aprontara. Depois de andar centenas de metros túnel a baixo, abria um portão de chifre, pensara estar no paraíso. Lá continha milhões de livros todos iluminados em prateleiras de carvalho. Numa mesinha próxima havia um bilhete dizendo: “para que tu saibas a história deste lugar”. Passara meses na biblioteca infinita acertando os detalhes fundação e escrevendo sua própria história em seu caderninho. Nesse tempo o que mais gostava além dos livros, era de caminhar até a cidadezinha.

Parte – 3
De volta aos olhos de Alice. (Portugal)

     A menina não cabia em si de tamanha felicidade, agora ela tinha seu avô de letrinhas. Ansiava pelo evento de Santiago. Era pura sede de conhecimento que os livros provocara em um ser sabido. Santiago discursara agradecendo aos que foram, eram bem poucos, mas já era algo. Aparecera a polícia ordenando que cancelassem o evento e vasculharam tudo em busca de itens proibidos (livros).
     Na semana seguinte, Santiago fora recebido pela mãe da menina toda insinuante na casa dos Crástinos. A menina achara o comportamento da mãe muito estranho na época. Santiago contara que os policiais foram na casa dele revirou-a por inteira. Eles nunca entenderiam o esforço do vizinho com os livros. E a menina ganhara mais uma história de seu avô de letrinhas.
Santiago viajara por meses para tristeza de Alice. Quando chegara fora direto para casa da miúda, tinha um trato com a menina de contar-lhe histórias toda semana. O tempo passara em um ritmo mais tranquilo com as histórias garantidas sempre depois do jantar, hora que toda a família ficara reunida para ouvi-la. Alice contemplava este momento em que os pais apenas conversavam sobre os contos, o que a fazia lembrar da casa da avó.

     Era natal, todos na família estavam com aquele humor natalino até Beatriz, a carrancuda. Santiago se integrava a família como um amigo, um irmão que o pai estimava-o muito. A menina ganhara um cordão que simbolizava a expressão “festina lane”, (apressa-te lentamente). Segurara-o como se fosse um amuleto de muito poder.
     O caderno escrito Hilário Pena, caíra no quarto da menina quando ela contara seu segredinho, que era caderninhos escondido dentro das bonecas. Estava diante de um dilema tortuoso para uma menina sabida, ler ou não ler. Talvez ele algum dia contasse para ela, pensara.
     Quando o vira chegar desembestara a correr para entregar o caderno em segredo. Como era de costume o assunto a mesa era as viagens de Santiago, que descrevia sempre com paisagens espetaculares. A história da “a menina e o tigre”, rendera porque os Crástinos não tinha senso lúdico e não compreendera as reviravoltas do conto. Com Santiago a família sentia-se completa e a recíproca era verdadeira. A menina pensara ter visto alguma na família.

     Certo dia a menina vira sua irmão na porta dele e intuiu que ali tinha coisa. Santiago estava completamente constrangido com rumo da conversa de Beatriz. Ela o vigiara pelas câmeras e divertia-se com o passatempo. Ele não sabia se poderia confiar em tal criatura, cínica que era. E continuara provocando-o dizendo que seu pai traia a mãe pela internet, e insinuando que a mãe se produzira bastante quando ele ia jantar na casa dela e outros dias nem jantar havia. Sai sem mais, sem menos. Santiago não entendera nada e a menina que espiava menos.
Mais tarde o pai tivera uma enxaqueca terrível depois que fora imprensado por Beatriz, e dissera para Louise suspender suspender os jantares com Santiago.
Passara uns dias, a mãe comunicara que iria a praia com as meninas, principalmente por Beatriz aceitar e convidara Santiago.

     Assim que chegaram na praia, Beatriz começara. Primeiro no celular debochando da companhia, depois soltou “usa cada coisa…” “O senhor não deveria usar essas coisas”. “Essa sunga. Parece ainda mais velho.” E continuara desdenhando, insinuando-se, interrogando o pobre Santiago. Felizmente não levara a sério, afinal, era apenas uma garota. A mãe chegara trotando como um animal muito divertido. Pelo olhos da menina. Peito e bunda num movimento forçado em direções opostas, até Beatriz olhara e a cena e pensara ser provocação ou competição. A mãe, que nunca fora mãe de fato, ficara toda zelosa com menina. Dando falsas esperanças. Beatriz voltara da casa de veraneio, atirara na mãe o biquíni que a mesma disse ter esquecido e a deixara falando sozinha. Como de costume sobrara para a menina, que levara a culpa pela cicatriz da cesariana e sendo causa de todo seu stress. Começara a chover e santiago ficara com a missão de tirar a miúda da praia. Chegaram na casa, as malas já estavam prontas, a mãe pôs milhões de motivos para voltar e assim fora.

     Dias depois, a menina correra para casa de Santiago, mas no caminho vira a irmã na porta dele toda insinuante desculpando-se pela cena na praia. Segundo ela para a mãe ele seria só casinho, mas para ela Santiago seria o homem perfeito. Ele já estava perdendo a paciência com todo o blá, blá, blá, da garota. Por fim saíra da casa trotando igual a mãe. A Menina não sabia no que pensar, ela vira uma cena e a irmão contara outra a mãe.
Sem os jantares com Santiago, a menina ficara órfã de histórias e do avô de letrinhas. Passara a noite lembrando da casa da avó, para ela era como se houvesse uma fenda temporal.

     A menina vira a mãe sair pela porta de trás e ir em direção ao palacete. Para seu azar ele estava acompanhado por Elizabeth, que trabalhava quando ela interrompera. Louise tentara convidar-lha para um jantar, mas Santiago a despachara rapidamente. Insatisfeita vai encher o marido de intrigas sobre o vizinho como: o seu estilo de vida era muito esquisito e supõe que a tal Fundação e seja uma faixada. Maquinara o plano para coletar informações, o jantar. A miúda não entendera nada, para ela se alguém quisesse saber algo era só perguntar simplesmente. Enquanto isso os pais andavam ainda mais estranhos do que o normal.
     A mãe repetira o mesmo ritual, desta vez, ligara para primeiro e pediu para que ele desse uma passadinha na casa dela. A menina fora impedida de pedir histórias e fica no mesmo ambiente, mas dera um jeitinho de escutar. A mãe dissera que a menina simplesmente acontecera por esta razão na merecia trato algum. Diferente de Beatriz que teve edição no DNA, sendo assim, programada para ter o maior Q.I., na mais conceituada clínica Fonte da Vida. Santiago ficara atônito com tal informação, era a mesma de décadas atrás só que desta vez bem mais sucedida. Perguntara o real motivo de tê-lo chamado. Primeiro era o episódio Beatriz, que os pais interpretaram como abuso, ele esclarecera, pois a pais sabem a filha que tem. Segundo era uma história com a mãe que dizia estar sendo stalkeada por alguém da academia no início, mas o teor das mensagens pensara ser alguém bem próximo. A menina sabia que a mãe nunca fora a academia. Louise continuara provocando-o com cara de “ninguém gosta de mim”, até receber o balde que água fria, ele considerava-a como uma irmã. O marido chegara e o jantar fora confirmado para o final de semana. A menina intuíra que o motivo para sua mão chamá-lo era outro, mas não compreendia qual.

     No dia do jantar era só ansiedade, a menina passara o tempo no bosque. Assim que os convidados chegaram, Alice correra para os braços de Santiago e não o largara o jantar inteiro. Santiago e Elizabeth falaram animadamente sobre o que estavam trabalhando. A moça além de estonteantemente linda, era culta e lutava para o fim da proibição aos livros. Alice queria ser igual a Elizabeth, estava cheia de ralharem com ela na escola e em casa. E como ela esperara veio o momento tão aguardo a da história de nome “o mito da videira encantada”. A miúda ficara verdadeiramente encantada com história.
Depois que Santiago fora embora, a mãe ataca. Distorci toda a história do dia que em que o vizinho estivera ali a pedido de Louise. O pai só se incomodara como o fato de a menina gostar mais de Santiago do que dele.

     A mãe fora novamente na casa de Santiago, tendo em mente um plano bem mais ousado. No meio do assunto que inventara pedira a ele que lhe tirasse o top e partira para cima. Nisso Beatriz flagrara a cena e entra na casa de Santiago igual um búfalo. Dissera que alimentara falsas esperanças até mesmo na menina. O circo estava armado! Partira para casa na intenção de revelar ao pai o que acontecendo a algum tempo.

     O mundinho da menina estava desmoronando. Não compreendia porque a mãe e a irmã brigavam por Santiago se nem de gostavam de histórias. A menina muita da sabida pensara e pensara até que, chegara a dura conclusão: ela servira de joguete para que a mãe pudesse atrai-lo e dar o bote mais tarde. Percebera então que não poderia confiar em ninguém da família. Notara que quanto mais sabida ficava, mais seu mundinho ficara envolto em névoas cada vez mais espessas.

     Alguém denunciara Santiago a imigração, o carro da polícia parou em frente ao palacete, Felizmente os documentos estavam em ordem. Os Crástinos o convidaram para um vinho. Beatriz, quase conseguira o que tanto desejava dele no banheiro, mas ele escapara por um fio. A mãe escutara tudo e pensara ser um sonho juvenil, poderia usar o aplicativo randômico para tirar a dúvida.
     Santiago contara ao pai da menina que andara recebendo ligações de um suposto frade o ameaçando, mas segundo o pai achara que era só alguém se divertindo. Louise pede a Santiago para ajudar a fotografar certo ponto no bosque.
     A menina sentira que algo muito ruim iri acontecer no seu pedacinho do Éden.

     Beatriz vinha brigando com a menina por ter de acompanhá-la até em casa, mas miúda teimosa que era convencera a irmã a passar pelo bosque mesmo estando proibida. A menina fora deixada para trás como de costume. Próximo ao rio encontra a irmã tirando foto de algo, aproximou-se e vira que era Santiago todo torto e sanguentado no chão. Ele tentara falar, mas a voz não vinha. Beatriz continuava no celular digitando sem parar. Desvencilhou-se da irmã para tentar seu avô de letrinhas, pegara o tablet e ligara para a emergência. Santiago apontava freneticamente para seu caderninho que estava indo rio abaixo. Fora impedida de pegá-lo pois sua irmã a levou a força para casa. Chegando lá, a mãe ligara para polícia, e a menina espiara a irmã aos prantos na sala. Escutara quando Beatriz dissera que fota que tirara de Santiago a fizera popular, mas alguém nos comentários que iria denunciá-la por não prestar socorro. Esse era seu drama a popularidade arrasada em pouquíssimo tempo. Pois a polícia batera na porta dos Crástinos em função do rastreamento das fotos postadas. O guarda perguntara a garota porque não chamara a emergência, o que carretou em omissão de socorro. Ela teria que prestar depoimento na delegacia.
     A menina se desmanchara em lágrimas, segundo a mãe Santiago virara estrelinha. Descera a cozinha e encontrara seu pai lavando um de seus tacos de beisebol, nele saia um licor avermelhado e terra. Logo observara que o pai não colocara junto a coleção, mas sim escondido.
Alice começara ligar os pontos do dialogo que escutara antes. Astuta como era resolvera encontrar o áudio das câmeras. Agora sabia de toada a trama que os pais fizeram contra Santiago, até as ligações estranhas que havia recebido, era coisa de deles.
     Não conseguira dormir pensando em seu avô de letrinhas agonizando até seu último suspiro. A menina questionara se era adota, pois não havia nada em comum com aqueles estranhos monstruosos. Tinha fome de conhecimento e eles de mesmice. Encontra Beatriz pela casa, havia sons incomuns vindo do quarto dos pais. As duas assistiram todo o ato carnal e foram para seus quartos. A menina continuara a chorar até dormir.
     Na madrugada escutara os passos do pai e sons de latas. Tempos depois os estalos das chamas que consumia a casa. O cheiro de corpos sendo queimados espantavam os curiosos. Os bombeiros chegaram, enquanto discutiam alguma estratégia, ouviram gritos do interior da casa. Um casal de desconhecidos adentraram para salvar quem fosse. Latas de querosene foram encontradas e três corpos carbonizados. As primeiras imagens na TV, mostrara uma menina no colo de um oficial. O palacete não fora atingido , mas o carro derretera junto com os livros.

****

     Trabalhara no escritório de arquitetura e maravilhava-se com seu trabalho. Caminhara até a fundação A.S.A-S (A.S.A-Santiago). Teria uma reunião decisiva se continuaria ou não na causa pelos livros físicos. Alguns países já haviam cedido. Votara a favor para continuar na luta contra proibição dos livros.
     A Quinta dos Imortais era um lugar que sempre a encantara. Montara seu passado com anotações, intuições e uma pitada de imaginação como gostara de pensar. Tinha o costume de ficar pensando. Pensara em Santiago nos tempos de Babel, queria ter o poder de reescrever sua história. Ele fora tudo para ela. Pensara em Elizabeth que a criara. Mesmo não merecendo pensara nos Crástinos, que transformara seu pedacinho do Éden em cinzas.
Agora era ela que carregava o caderno de Hilário Pena. Juntara as três histórias: Hilário, Santiago e a dela. Entre Barris de no túnel antes de entrar na biblioteca infinita, escrevera na capa do caderno “O Silêncio dos Livros”. Faria suas anotações de modo linear, e entrara no paraíso da literatura.

Obs: Este resumo está em partes como no livro. A obra não conta a história de forma linear.

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