domingo, 26 de outubro de 2025

O peso do pássaro morto - Aline Bei.


Romance de estreia de Aline Bei, O peso do pássaro morto narra a história de uma mulher dos 8 aos 52 anos — uma vida marcada por renúncias, perdas, traumas e sofrimentos. Esta nova edição inclui posfácio inédito de Marcelino Freire.

A protagonista deste livro não tem nome. Aos oito anos, ela tem um corpo que brinca, sonha e ama. Tem pais que se preocupam com ela. Tem uma melhor amiga com quem se diverte durante os intervalos da escola. Tem como vizinhos uma senhora querida que cozinha o melhor pudim do mundo e um enigmático benzedeiro de óculos escuros que cura tudo em um passe de mágica. Tem, sobretudo, um futuro repleto de possibilidades pela frente.
Porém, uma série de acontecimentos lhe ensina muito cedo sua falta de controle diante da imprevisibilidade da morte. Brutais e implacáveis, essas perdas logo passam a fazer parte de quem ela é. Anos mais tarde, com as cicatrizes dos traumas de infância inscritas no corpo, a protagonista é vítima de uma violência que mais uma vez a mudará para sempre. Em meio a muitas dores, mas também a pequenos momentos de delicadeza, essa mulher amadurece tentando entender seu lugar em um mundo — que parece relembrá-la, em igual medida, de sua fragilidade e de sua força.

Publicado pela primeira vez em 2017, O peso do pássaro morto se tornou um dos maiores fenômenos da literatura contemporânea, e se destaca por seu estilo híbrido entre a prosa e a poesia. Nessa estreia arrebatadora, Aline Bei faz uma investigação universal da existência humana, de nossa busca por afeto e de como os nossos sofrimentos — nem sempre nomeáveis — nos tornam quem somos.

"Nesta obra, todos aqueles que, em suas solidões, temem a morte, encontrarão o que há de mais indelével na existência: perceber-se humano ao sentir o peso que o outro suporta. Uma escrita que nos permite experienciar diversas maneiras de se findar — como um ensaio, como a pele que testa a quentura da água — pela escolha de continuar lendo, e sentindo, a beleza de chorar as dores de uma personagem. Aline Bei, aqui, nos entrega seu legado." — Jarid Arraes

"O peso do pássaro morto é um marco da ficção contemporânea brasileira. Aline Bei constrói a leveza e o peso de viver por meio de uma linguagem exuberante. Uma narrativa magistral sobre a perda, a solidão e a passagem do tempo." — Jeferson Tenório.

domingo, 19 de outubro de 2025

Círculo dos dias - Ken Follett


 

O livro Círculo dos Dias, de Ken Follett, é uma das obras mais recentes do autor e marca uma nova incursão na ficção histórica, explorando a origem da civilização humana e a força das ideias que moldam o mundo. Ambientado num passado distante, inspirado pelos mistérios que cercam monumentos como Stonehenge, o romance acompanha personagens que vivem num tempo em que fé, natureza e sobrevivência se misturam de forma inseparável. Follett constrói uma narrativa envolvente, que combina drama humano, conflito social e a eterna busca pelo sentido da existência.


A história gira em torno de Joia, uma sacerdotisa que tem visões sobre a construção de um círculo de pedras capaz de unir seu povo e simbolizar a ligação entre os homens e o divino. Essa visão, porém, exige mais do que inspiração: demanda trabalho coletivo, superação de medos e resistência diante da adversidade. Ao seu redor, outros personagens ganham destaque, como Seft, um mineiro determinado que viaja pela Grande Planície em busca de Neen, sua amada e irmã de Joia. A trajetória de Seft o coloca diante de um dilema entre o amor e o dever, entre o mundo prático e o espiritual.


Follett constrói esses personagens como representações das forças que movem a humanidade: o sonho e o esforço, a fé e o conflito, a emoção e a razão. Joia é o símbolo da inspiração e da crença na transcendência, enquanto Seft representa o homem comum, aquele que transforma a visão em realidade através do trabalho e da coragem. Essa oposição cria um equilíbrio narrativo que reflete a própria natureza humana — dividida entre a vontade de criar algo eterno e a necessidade de sobreviver ao presente.


O contexto da obra é marcado por escassez, seca e tensões entre comunidades com modos de vida diferentes: pastores, agricultores e habitantes das florestas. Essas diferenças culturais e econômicas tornam a convivência difícil e levantam questões sobre o poder, a liderança e a cooperação. O sonho de Joia de construir o círculo de pedras torna-se um espelho para os desafios humanos de viver em sociedade — a dificuldade de unir o coletivo em torno de um ideal comum, o medo da mudança e o conflito entre tradição e inovação.


A seca, elemento constante no enredo, funciona quase como um personagem: é a força da natureza que põe à prova a fé das pessoas, expõe suas limitações e obriga-as a escolher entre a esperança e o desespero. Follett usa o clima como metáfora para os tempos de crise — sejam eles antigos ou contemporâneos — mostrando que os grandes feitos da humanidade nascem justamente da adversidade. É quando tudo parece ruir que surge a necessidade de criar, acreditar e construir.


Ao longo do livro, o leitor é levado a refletir sobre a essência da civilização. O monumento sonhado por Joia não é apenas uma construção física, mas uma tentativa de eternizar o espírito humano, de deixar uma marca que ultrapasse o tempo e a morte. Follett sugere que o impulso de erguer monumentos e de contar histórias é o que define o ser humano — a busca por significado e por permanência. O círculo de pedras, nesse sentido, é tanto símbolo de fé quanto de identidade: representa o início da consciência de que, juntos, os homens podem construir algo que dure para sempre.


Ken Follett demonstra mais uma vez sua maestria em unir narrativa envolvente e profundidade histórica. Assim como em obras como Os Pilares da Terra, ele mostra que o progresso humano nasce do entrelaçamento entre sonho e esforço, entre inspiração e suor. Círculo dos Dias é uma celebração da imaginação, mas também um lembrete do preço que se paga por transformar ideias em realidade. O autor parece nos dizer que cada avanço da humanidade — seja uma catedral, um monumento ou uma simples pedra erguida em homenagem ao sol — é resultado de fé, sacrifício e da capacidade de sonhar coletivamente.


Mais do que uma história sobre o passado, o romance reflete o presente. As divisões entre povos, as mudanças climáticas e os desafios da convivência continuam a nos acompanhar. Assim, o livro de Follett se transforma em um espelho da condição humana: o círculo de pedras de Joia é, simbolicamente, o círculo dos dias que se repetem, das esperanças que renascem e dos sonhos que nos mantêm de pé. Em última instância, Círculo dos Dias é uma homenagem à força que nos faz construir, acreditar e continuar, mesmo quando tudo ao redor parece desabar.

domingo, 12 de outubro de 2025

As gêmeas de Auschwitz - Eva Mozes Kor


Em 1942, as gêmeas Eva e Miriam, duas judias romenas, foram levadas aos campos de concentração. Com apenas dez anos de idade as duas foram separadas dos pais e irmãos, que foram assassinados nas câmaras de gás, e entregues ao médico nazista Josef Mengele, conhecido como o “Anjo da Morte”, responsável por realizar experimentos cruéis em gêmeos. Também conhecido como 'o terror de Auschwitz'. 

Em seu relato, Eva descreve com detalhes o sofrimento físico e psicológico que enfrentou dentro do campo. As gêmeas foram submetidas a injeções misteriosas, exames dolorosos e condições desumanas, vivendo sob constante medo de morrer. Apesar de tudo, Eva demonstra uma força impressionante e um profundo instinto de sobrevivência, lutando não apenas pela própria vida, mas também pela de sua irmã. A esperança e a determinação se tornam suas maiores armas diante da crueldade e da perda.

Após a libertação de Auschwitz, em 1945, Eva e Miriam iniciam uma longa jornada para reconstruir suas vidas. O trauma causado pelas experiências no campo de concentração as acompanhou por toda a vida, mas Eva escolheu seguir um caminho inesperado: o do perdão. Décadas depois, ela decidiu perdoar publicamente os nazistas que a haviam torturado, não como um ato de esquecimento ou aceitação, mas como uma forma de libertar-se do ódio e da dor. Esse gesto causou controvérsia, mas também revelou uma mensagem poderosa sobre cura, humanidade e superação.

As Gêmeas de Auschwitz é mais do que um testemunho histórico, é uma lição de vida. O livro mostra o quanto o ser humano é capaz de resistir, mesmo diante da barbárie, e como a resiliência pode transformar a dor em aprendizado. Ao compartilhar sua história, Eva Mozes Kor não apenas preserva a memória do Holocausto, mas também inspira o leitor a refletir sobre a importância do perdão, da empatia e da paz. Sua mensagem final é clara e profunda: mesmo diante do mal extremo, a esperança e a coragem podem prevalecer.