domingo, 7 de setembro de 2025

Assassinos da lua das flores - David Grann


Escrito pelo jornalista investigativo David Grann, é uma obra que transcende os limites de uma simples narrativa histórica. Publicado originalmente em 2017, ele se insere no campo da não ficção ao reconstruir uma série de crimes que abalaram a comunidade indígena Osage, em Oklahoma, nos anos 1920. Mais do que relatar assassinatos, o autor explora temas universais como ganância, racismo estrutural, colonização e a fragilidade da justiça em sociedades desiguais.

A história gira em torno da tribo Osage, que foram sistematicamente assassinados após a descoberta de petróleo em suas terras. Os indígenas, que até então viviam marginalizados, tornaram-se momentaneamente o povo mais rico per capita do mundo devido às royalties do petróleo. Esse súbito enriquecimento despertou a cobiça de empresários, especuladores e, sobretudo, de indivíduos dispostos a tudo para se apossar de suas riquezas. A narrativa de Grann expõe como uma onda de crimes foi orquestrada contra os Osage, frequentemente com a cumplicidade das autoridades locais.

Nesse contexto, surge o papel do recém-criado FBI. A investigação desses assassinatos marcou um dos primeiros grandes casos da agência, sob a liderança de J. Edgar Hoover. Grann evidencia como a solução parcial dos crimes contribuiu para consolidar a imagem do FBI como uma instituição federal capaz de enfrentar o crime organizado e a corrupção local. Entretanto, o livro não deixa de ressaltar as limitações dessa investigação, pois muitos crimes permaneceram impunes e diversos cúmplices nunca foram julgados.

Do ponto de vista literário, Assassinos da Lua das Flores combina o rigor da pesquisa jornalística com a fluidez de uma narrativa quase romanesca. Grann recorre a documentos oficiais, relatos orais e arquivos históricos para reconstruir a trama, mas escreve com ritmo e tensão dignos de um thriller policial. O resultado é uma obra envolvente e perturbadora, que provoca no leitor tanto indignação moral quanto reflexão crítica.

O grande mérito está em recuperar uma parte esquecida da história norte-americana e dar voz às vítimas indígenas, cuja memória muitas vezes foi silenciada. Ele expõe, de maneira contundente, como a ganância e o preconceito resultaram em uma série de injustiças que ecoam até hoje. Além disso, mostra como a fundação de instituições modernas, como o FBI, está profundamente marcada por conflitos de poder, interesses econômicos e desigualdades sociais.

Em suma, é uma obra que transcende o relato histórico e se torna um espelho da sociedade contemporânea. Ao revelar a violência sofrida pelos Osage, David Grann nos convida a refletir sobre o peso do racismo, da exploração e da impunidade na formação das estruturas de poder. Assim, a dissertação que emerge da leitura do livro é clara: a história não pode ser esquecida, e a justiça só pode ser plena quando se reconhece a dignidade de todos os povos.

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