E a Netflix surpreende mais uma vez!
Nessa vez um filme que tinha tudo para ser mais um desperdício de verba e elenco, (e que elenco), mas se provou uma enorme crítica política-social. Leia o texto abaixo:
Em uma era onde a sutileza é dispensada em prol do que é escancarado e dito com todas as letras, Não Olhe para Cima transforma o que seria mundano e pouco inventivo em algo quase genial. O novo trabalho de Adam McKay é uma ode ao fim do mundo como conhecemos – não um básico filme-catástrofe aos moldes de Armageddon ou até Impacto Profundo, mas uma trama regada pela burrice da humanidade.
Burrice talvez seja um termo muito “bruto” para falar das camadas do filme, mas é o mais próximo que temos do que vemos nos noticiários, nas ruas e nas redes sociais. Em frente a uma calamidade capaz de aniquilar toda a espécie, o povo se divide entre quem quer escutar os cientistas e quem vê no negacionismo não apenas um conforto, mas sim a ferramenta política necessária para controlar as massas.
E tudo começa da forma mais simples possível. Nos primeiros minutos, Kate Dibiasky (interpretada por Jennifer Lawrence, excepcional no papel) descobre um meteoro e logo avisa ao seu superior, o Dr. Randall Mindy (que é vivido por Leonardo DiCaprio, em uma performance simples mas eficaz). Os dois começam a fazer as pesquisas e descobrem que o novo corpo celeste está em rota de colisão para a Terra.
O filme só peca no excesso de personagem que no decorrer da trama vai lotando a história e alongando cenas.
Além dos protagonistas, talvez o único que se saia bem é Mark Rylance no papel de Peter Isherwell, um bilionário avoado e excêntrico, que reflete perfeitamente os tiques e surtos da new age de ricaços como Jeff Bezos e Elon Musk. E isso é bem incorporado no filme, exceto quando o próprio roteiro parece esquecer dele durante um bom tempo de duração para apenas resgatá-lo na reta final do longa.
Mas no geral, em meio a risos nervosos e ranger de dentes, o filme consegue divertir através do absurdo de suas situações, até porque vivemos em tempos tão absurdos quanto o que está em tela. Isso gera um sorriso amarelo e um suor frio escorrendo na testa, mas o entretenimento é garantido quando McKay vai até alguns extremos para criticar o status quo da contemporaneidade.
Um exemplo perfeito disso é Riley Bina e DJ Chello (vividos por Ariana Grande e Kid Cudi). Os dois seriam até descartáveis na trama se não estivessem tão afinados em um timing cômico que beira o non-sense – ao mesmo tempo em que isso serve como um breve holofote para a alienação das massas e a necessidade de celebridades e influenciadores que se posicionem, para guiar a manada ao pensamento crítico.
Em seu mais novo filme, Adam McKay prova que consegue ser como era antes – um diretor sincero e direto ao ponto, que não precisa de muito para entreter e divertir, e que também não carrega uma auto-importância descabida. Claro, não é o filme mais genial de todos os tempos, mas a verdade é que o momento atual exige algo muito mais na cara e desconfortável, sem espaço para sutilezas e licenças poéticas.
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