domingo, 28 de fevereiro de 2021

A Era do Capitalismo de Vigilância - Shoshana Zuboff


Obra-prima em termos de pensamento original e pesquisa, A era do capitalismo de vigilância, de Shoshana Zuboff, apresenta ideias alarmantes sobre o fenômeno que ela nomeou capitalismo de vigilância. Os riscos não poderiam ser maiores: uma arquitetura global de modificação comportamental ameaça impactar a humanidade no século XXI de forma tão radical quanto o capitalismo industrial desfigurou o mundo natural no século XX.

Zuboff chama a atenção para as consequências das práticas de empresas de tecnologia sobre todos os setores da economia. Um grande volume de riqueza e poder vem sendo acumulado em sinistros “mercados futuros comportamentais”, nos quais os dados que deixamos nas redes são negociados sem o nosso consentimento e a produção de bens e serviços segue a lógica de novas “formas de modificação de comportamento”.

A ameaça não é mais um estado totalitário simbolizado pelo Grande Irmão da literatura de George Orwell, mas uma arquitetura digital presente em todos os lugares, agindo em prol dos interesses do capital de vigilância. Estamos diante da construção de uma forma de poder inédita, caracterizada por uma extrema concentração de conhecimento que não passa pela supervisão da democracia.

A análise perturbadora e embasada de Zuboff escancara as ameaças da sociedade do século XXI: vivemos em uma “colmeia” de conexão plena, que a todos seduz com a promessa de lucro máximo garantido, mesmo que à custa da democracia, da liberdade e do futuro da humanidade.

Enfrentando pouca resistência por parte da lei e da sociedade, o capitalismo de vigilância está em vias de dominar a ordem social e moldar o futuro digital ― se nós assim permitirmos.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Torto Arado - Itamar Vieira Junior


Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ? a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção. Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social

Na crítica, são muitos os elogios para o romance que conta a história de duas irmãs que crescem na Chapada Diamantina. A narrativa, que passa por temas como servidão, luta pela terra e educação, foi projetada após vencer o prêmio Leya, em Portugal, e consagrada no final de 2020 com os troféus do Jabuti - na categoria Romance Literário.


Sobre o Autor
Nasceu em Salvador, em 1979. Na adolescência, residiu no estado de Pernambuco, e mais tarde na cidade de São Luís. Começou os estudos de geografia na graduação na Universidade Federal da Bahia, sendo o primeiro aluno receptor da Bolsa Milton Santos, dedicada para jovens negros de baixa renda. Formou-se em Geografia e concluiu mestrado. É doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia com estudo sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro.
Publicou os livros Dias, A oração dos carrascos e Torto Arado.


domingo, 14 de fevereiro de 2021

Cine Pipoca #019


Olá pensadores, o primeiro cine pipoca de 2021, vem cheio de suspense, grandes produções e reflexões. Destaque para o filme “O Caso Richard Jewell” para saber a crítica e resumo desta obra clique aqui.
Entre outros estam 'Mundo em Caos' com Tom Holland, a nova versão de Pinóquio num tom sombrio e Boss Level com Mel Gibson eletrizando. Vamos conferir!!








Você poderá gostar também de: Cine Pipoca #018.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

[Curiosidades] Como a economia do Egito Antigo permitiu a construção das pirâmides


À sombra das Pirâmides de Gizé, no Egito, encontram-se as tumbas de cortesãos e altos funcionários dos faraós, cujos corpos estão sepultados no interior dessas monumentais estruturas.

Estes homens e mulheres foram responsáveis ​​pela construção das pirâmides: arquitetos, militares, sacerdotes e funcionários de alto escalão do governo.

Estes últimos administravam o país e se encarregavam de garantir que as finanças estivessem saudáveis ​​o suficiente para construir essas monumentais tumbas reais, que eles esperavam que durassem toda a eternidade.

No Império Antigo, período que durou cerca de 500 anos (2686-2181 a.C.), a economia era principalmente agrícola e fortemente dependente do Rio Nilo. Que inundava os campos ao longo de suas margens, tornando a terra fértil. Também permitia o transporte de mercadorias por todo o país.

Pesquisas sugerem que a maioria dos solos cultivados fazia parte de grandes propriedades que estavam sob controle da coroa, de vários templos e de proprietários de terra abastados, que eram geralmente funcionários reais.

Essas terras não devem ser consideradas unidades completamente separadas, mas sim interligadas. Muitas vezes, faziam parte da mesma rede de distribuição, pertenciam em última análise ao rei e, até certo ponto, dependiam da administração central do Estado.

Esse sistema também podia envolver tanto redes formais e informais de redistribuição e favores. A sociedade desse período foi comparada ao sistema feudal, como o que existia na Europa medieval.


Sistema tributário complexo

Em geral, as propriedades agrícolas, junto com as cidades, eram as unidades básicas de organização econômica e social. Pesquisas sugerem que a coroa não cobrava impostos de pessoa física, como de agricultores, já que o governo não parece ter sido capaz de gerenciar os pormenores de tal tarefa em todo o país.

Em vez disso, cobrava dos chefes dessas propriedades, que eram responsáveis ​​por entregar pessoalmente o tributo aos cofres da coroa e por garantir que as terras que supervisionavam gerassem o montante esperado. Do contrário, podiam ser penalizados com castigos físicos.

Para calcular o rendimento e, consequentemente, o valor do imposto devido, a coroa realizava censos periódicos. Eles não contavam o número de indivíduos, mas sim os bens sujeitos à tributação, como gado, ovelhas e cabras. Também está claro que outros produtos eram recolhidos, como tecidos e outros tipos de trabalhos manuais.

Os impostos arrecadados pelo Estado eram guardados em celeiros e tesourarias e, posteriormente, redistribuídos às propriedades ou utilizados em projetos de construção de diversos tipos, como uma tumba real ou na manutenção de seu culto mortuário.

Em Abusir, nas imediações do Cairo, foram encontradas evidências de como esse tipo de culto mortuário real era realizado.

Os textos encontrados permitiram aos historiadores saber como era o cotidiano dos sacerdotes e entender como o culto ao falecido rei estava relacionado com a administração real e com as várias propriedades pertencentes aos templos.


Operação harmoniosa

Os chefes das propriedades eram ricos, mas trabalhavam para conseguir sua fortuna. Eram responsáveis ​​por garantir que suas terras funcionassem sem problemas e que seus funcionários — que trabalhavam sob a "corveia real" ou "servidão real" — recebessem comida, roupas e abrigo.

Nas cidades da província de Gizé, eles recebiam carne, peixe e cerveja de alta qualidade. Essa pode ter sido uma das vantagens de fazer parte da força de trabalho da corveia, cujos trabalhadores, provenientes de propriedades agrícolas de todo o país, eram convocados para obras monumentais reais.

Uma inscrição de Weni, juiz e comandante militar de Abidos, no Alto Egito, indica que os soldados foram recrutados a partir do mesmo grupo que os trabalhadores da corveia.
Eles participavam de várias expedições patrocinadas pelo Estado a terras ricas em minerais que faziam fronteira com o Egito Antigo.

Matérias-primas como cobre e madeira de lei (necessária para os projetos de construção de grande porte) eram levadas para o Egito. Assim como itens de luxo, incluindo animais exóticos, plantas e indivíduos — claramente escravizados — para a diversão da corte.

Em Wadi al Jarf, que serviu como porto durante o Império Antigo, na costa do Mar Vermelho, foram encontrados documentos em papiro do reinado do faraó Quéops.

Esses textos contêm os registros de um capitão chamado Merer, que reporta sua atividade de transporte de homens e mercadorias para dentro e para fora do Egito.

Os documentos também revelam como ele e seus 40 homens participaram das obras de construção da Grande Pirâmide de Gizé, carregando pedras das pedreiras para o canteiro de obras da pirâmide.


A hipótese é que esses projetos refinaram o aparato administrativo e impulsionaram a economia egípcia.

Merer, assim como os funcionários das propriedades agrícolas, trabalhava para o departamento de construção real, que era responsável por todas as obras importantes no país e provavelmente também por erguer as Pirâmides de Gizé e de Sakkara, ao sul.

A força de trabalho egípcia — seja um administrador real ou um operário que carregava pedras no canteiro de obras — prestava serviço à coroa.

A coroa, por sua vez, retribuía o trabalho redistribuindo alimentos e outros produtos básicos aos chefes, que o faziam circular mais abaixo na escala social.

Mas somente quem estava nas mais altas hierarquias podia ser recompensado com um culto funerário patrocinado pelo Estado próximo à tumba do rei.

Fonte: BBC