domingo, 17 de novembro de 2024

O Ano das Bruxas - Alexis Henderson.



Ambientado na cidade de Betel, onde a palavra do Profeta é lei e qualquer fruto de um relacionamento interracial é uma blasfêmia. Na trama, Immanuelle, tida por muitos como uma jovem amaldiçoada por causa dos pecados da mãe. Ela faz de tudo para seguir o Protocolo Sagrado e levar uma vida de obediência, devoção e conformidade, como todas as outras mulheres da cidade. Ainda assim, Immanuelle lê em segredo, esquece de fazer as preces antes de dormir, tem devaneios durante os deveres diários e por vezes não demonstra a gratidão esperada.

Quando um acidente a leva até a Mata Sombria, onde o primeiro Profeta perseguiu e matou quatro bruxas poderosas, Immanuelle se encontra com os espíritos dessas bruxas, que a presenteiam com o antigo diário de sua mãe. Quanto mais ela lê, mais compreende a injustiça da sociedade em que vive: as hipocrisias da Igreja e do Profeta, as desigualdades sociais e de gênero, as leis antiéticas e corruptas. E entende que, se Betel precisa mudar, a mudança deve começar com ela.

Criada à base de livros de fantasmas e histórias populares sulistas, a autora estreante Alexis Henderson apresenta uma história sangrenta e visceral, permeada por divindades ― algumas figuras conhecidas da bruxaria, outras criadas por ela própria ―, sacrifícios de sangue e pragas.

Evocando histórias como o romance O Conto da Aia, de Margaret Atwood, e o filme A Bruxa, do diretor Robert Eggers, O Ano das Bruxas é uma aventura poderosa protagonizada por uma heroína gentil, corajosa e idealista. Uma história sobre a luta de uma jovem para revolucionar um sistema que, por anos a fio, usou a religião como desculpa para cometer abusos, vitimizar e traumatizar mulheres. Betel é um mundo fictício, mas as injustiças e desafios vividos pelas mulheres são reais.

domingo, 3 de novembro de 2024

Cine Pipoca #030

Mais um ano se passa com grandes produções no universo cinematográfico. Veja abaixo uma amostra do que teremos para este fim de ano.


Um conflito entre César, um artista genial que busca saltar para um futuro utópico e idealista, e seu opositor, o prefeito Franklyn Cicero, que permanece comprometido com um status quo regressivo, perpetuando a ganância.


No início da década de 1970, o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva - Rubens, Eunice e seus cinco filhos - vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. Eunice - cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas - é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.


A épica aventura acompanha a jornada de uma robô – a unidade ROZZUM 7134, “Roz” – que naufraga em uma ilha desabitada e precisa aprender a se adaptar ao ambiente hostil, construindo pouco a pouco relacionamentos com os animais nativos, e até adotando um filhotinho de ganso órfão.


Moana viaja para os mares distantes depois de receber uma ligação inesperada de seus ancestrais.

Vocé também poderá gostar de: Cine Pipoca #029.

domingo, 27 de outubro de 2024

Poder e desigualdade: O retrato do Brasil no começo do século XXI - Cesar Calejon e André Roncaglia


Nesta obra, vemos de perto como as complexas interações entre os poderes midiático, político e econômico moldam nossa sociedade, em um sistema intrincado que perpetua a sobreposição do interesse das elites aos da população.

Os autores explicam como as características específicas do desenvolvimento econômico do país deram origem ao “fazendão com cassino”, uma analogia reveladora de como o modelo extrativista colonial – atualizado pelo agronegócio e pela mineração – se aliou à financeirização da economia. Assim, observamos como a desregulação de um Estado fraco permite, por séculos, condições de exploração vexatórias. O resultado disso é que, nos dias de hoje, uma pequena classe de executivos tem ganhos exorbitantes sem sofrer contraposição da opinião pública, enquanto uma enorme massa de trabalhadores se precariza, perdendo direitos trabalhistas e tendo sua vida produtiva cercada pelo desemprego, pela informalidade e pelas plataformas digitais.

Esses efeitos práticos entre a expectativa de melhora de vida e o estrangulamento do nível de consumo geram impactos políticos contraditórios, uma vez que as demandas por mudanças se voltam contra a proteção da maioria esmagadora da população vulnerável. Por um lado, a onda de frustração é combustível para o crescimento da extrema direita, aumentando a pressão política que expõe o descrédito na democracia; por outro, as soluções colocadas à mesa são fortemente influenciadas pelos lobbies dos grupos elitistas, que culpam o Estado (e o cobram) pelas supostas perdas de seu domínio econômico – deixando intocados os ciclos de ganância, crise e fraude que marcam a história do capitalismo brasileiro.

Em Poder e desigualdade estão delineados os principais pontos de nosso infortúnio. Percebemos aqui como o “elitismo histórico-cultural” influencia as decisões em diferentes áreas de nossa vida pública, seja no afunilamento das opiniões, com a adesão sem peias do jornalismo profissional aos discursos financeiros, seja na enclausura do poder público, quando os Três Poderes da República – Judiciário, Legislativo e Executivo – se encontram entrevados pelo acosso elitista, que, por sua vez, se empenha em sufocar todas as frestas de representação popular que ainda se encontram disponíveis.

domingo, 20 de outubro de 2024

A revolução ignorada: Liberação da mulher, democracia direta e pluralismo radical no Oriente Médio - David Graeber Dilar Dirik


Uma análise profunda do movimento revolucionário curdo, em especial o que ocorre na região de Rojava, no norte da Síria. O livro explora a luta dos curdos por autonomia, democracia direta e igualdade de gênero, enfatizando o papel central das mulheres nesse processo.

Os autores discutem como o movimento, inspirado pelas ideias de Abdullah Öcalan e influenciado por teorias anarquistas e feministas, implementa uma forma de governança radicalmente democrática e pluralista. Em Rojava, foram criadas estruturas autônomas baseadas na autogestão comunitária, com conselhos e assembleias que envolvem diretamente a população na tomada de decisões.

Um dos temas centrais do livro é o papel crucial das mulheres no movimento curdo, destacando como elas não apenas participam da luta armada, mas também lideram a criação de um sistema político e social que combate o patriarcado e promove a igualdade de gênero. O conceito de "jineologia" (ciência da mulher) é central nessa perspectiva, propondo um novo paradigma feminista.

A obra é uma celebração da revolução em Rojava como um modelo alternativo de sociedade, oferecendo uma alternativa às formas tradicionais de Estado-nação e capitalismo, mas que, ao mesmo tempo, tem sido amplamente ignorada pela mídia e pela política ocidental.

Depois da ascensão do Estado Islâmico, o mundo se deu conta que havia mulheres lutando no Curdistão. Muitas pessoas que desconheciam o que se passava nessa região se surpreenderam com o fato das mulheres curdas, numa sociedade vista como conservadora e dominada pelo machismo, estarem derrotando a impiedosa milícia fundamentalista. Os meios de comunicação de massa, e inclusive as revistas de moda, se esforçaram para se apropriar e instrumentalizar a luta legítima dessas mulheres como se fosse um tipo de fantasia sexy ao estilo ocidental. Centraram seus interesses em elementos frívolos e superficiais, como “os milicianos do Califado têm medo das mulheres curdas porque se uma mulher o matar não irão ao Paraíso”. Mas ignoram que há algo além da luta armada neste conflito. O que há é um projeto político de emancipação radical.
― Dilar Dirik, curda ativista e PhD na Universidade de Cambridge.

"Os revolucionários espanhóis pretendiam criar a visão de uma sociedade livre que o mundo inteiro pudesse seguir. Em vez disso, as potências mundiais declararam uma política de “não-intervenção” e mantiveram um rigoroso bloqueio sobre a república, mesmo depois de Hitler e Mussolini, signatários ostensivos do bloqueio, terem começado a fornecer tropas e armas para reforçar o lado fascista. Essa atitude teve como resultado anos de guerra civil, que acabaram na derrota da revolução e em alguns dos massacres mais brutais de um século sangrento. Eu nunca pensei que veria, durante a minha vida, a mesma situação acontecer novamente. Obviamente, nenhum acontecimento histórico se repete, de fato, duas vezes.

Há mil diferenças entre o que se passou na Espanha em 1936 e o que está se passando hoje em Rojava, as três províncias de maioria curda do norte da Síria. Mas algumas das semelhanças são tão impactantes, e tão aflitivas, que sinto que fui incumbido (já que cresci em uma família com uma visão política definida pela Revolução Espanhola) de dizer: não podemos deixar que termine da mesma maneira outra vez. Como algo semelhante pode acontecer e ser praticamente ignorado pela comunidade internacional e, inclusive, de forma ampla, pela esquerda internacional? Parece ser, sobretudo, porque o grupo revolucionário de Rojava, o Partido da União Democrática (PYD, na sigla em curdo), age em aliança com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em curdo) turco, um movimento de guerrilha marxista que desde os anos 1970 esteve envolvido em uma longa guerra contra a Turquia.

A OTAN, os EUA e a União Europeia o classificam oficialmente como uma organização “terrorista”. Enquanto isso, são frequentemente tachados de stalinistas pela esquerda. Mas, de fato, o próprio PKK não tem mais quase nada que se pareça com o antigo partido leninista verticalizado que um dia havia sido. O PKK declarou que já não quer criar um Estado curdo. Por conta disso, inspirado em parte pela visão do ecologista social e anarquista de Murray Bookchin, adotou a perspectiva do “municipalismo libertário”, pregando entre os curdos a criação de comunidades livres e autônomas, baseadas nos princípios da democracia direta, que iriam juntas além das fronteiras nacionais – as quais, com o tempo, se espera que percam seu significado. Neste sentido, como propuseram, a luta curda poderia se tornar um modelo para um movimento mundial rumo a uma democracia genuína, uma economia cooperativa e a dissolução gradual do Estado-nação burocrático."
― David Graeber, antropólogo anarquista e professor no Colégio Goldsmith da Universidade de Londres.


Mulheres curdas expulsam o islão e convocam as afegãs em solidariedade. 

domingo, 13 de outubro de 2024

Dejesos Mortais - Chloe Gong


Todo ano, milhares de pessoas do reino de Talin se deslocam em massa para a capital, as cidades gêmeas de San-Er, onde o palácio organiza um jogo. Feito para aqueles que têm confiança o suficiente em suas habilidades de saltar entre corpos, os competidores em San-Er lutam até a morte para ganhar riquezas inimagináveis.

Uma estreia na fantasia adulta inspirada na peça “Antônio e Cleópatra” de Shakespeare, com disputas por poder, sangue derramado e romance, em meio a jogos mortais.

A princesa Calla Tuoleimi aguarda, escondida. Cinco anos atrás, um massacre matou seus pais e deixou o palácio de Er vazio… E a assassina foi ela mesma. Antes que as forças do Rei Kasa em San possam capturá-la, ela planeja terminar o que começou e derrubar a monarquia. Seu tio recluso sempre recebe o vencedor dos jogos para um aperto de mãos; então, se ela vencer, terá enfim a oportunidade de matá-lo.

Anton Makusa é um aristocrata exilado. Seu amor de infância está em coma desde que ambos foram expulsos do palácio, e ele está mergulhado em dívidas na tentativa de mantê-la viva. Felizmente, ele é um dos melhores saltadores do reino, flutuando à vontade de corpo em corpo. Sua última chance de salvá-la é entrar nos jogos e vencer.

Calla então se encontra em uma aliança inesperada com Anton, e recebe ajuda do filho adotivo do Rei Kasa, August, que quer corrigir as aflições de Talin. Mas os três têm objetivos muito diferentes, mesmo quando a parceria de Calla e Anton se transforma em algo que consome tudo. Antes que os jogos terminem, Calla precisa decidir pelo que está lutando: seu amante ou seu reino.

“É um épico surpreendente e subversivo, tão afiado e honesto quanto imprevisível. O estilo assertivo de Chloe Gong é cheio de uma prosa cortante como uma lâmina, e seus personagens complexos vão ferir você, mas da forma mais empolgante possível. Que época mais maravilhosa para os amantes de livros.”
Wesley Chu, autor da “The War Arts Saga”, best-seller do “New York Times”

domingo, 6 de outubro de 2024

O pobre de direita: A vingança dos bastardos - Jessé Souza


Jessé Souza ganha cada vez mais destaque na opinião pública, não apenas tece teorias sociais inovadoras como também investe em explicações para questões urgentes que são espelho da situação sociopolítica do Brasil.

É isso o que vemos neste O pobre de direita , um livro que põe no alvo um dos debates atuais mais acalorados. Afinal, o aumento do apoio popular à extrema direita é um fenômeno recente que, a partir de 2018, mudou completamente o panorama das corridas eleitorais no Brasil. No entanto, como explicar essa adesão repentina? Por que boa parcela das classes empobrecidas aderiu às pautas da extrema direita justamente no momento histórico em que houve uma melhora significativa das condições de vida? O que justifica o apoio dos mais pobres a políticos que retiram direitos e benefícios?

Para responder a essas questões, Jessé Souza se concentra em dois grupos – o branco pobre e o negro evangélico – como modelos desse engajamento. Ao ouvir diretamente as reclamações das pessoas de tais grupos, o sociólogo nos faz perceber, por exemplo, como as demandas racistas da maioria populacional branca da região Sul e do estado de São Paulo passam também a ser defendidas pela população racializada, que, muitas vezes, sofre forte influência dos segmentos evangélicos que apostam na dominação política. Por esse caminho, Jessé Souza propõe uma interpretação inédita e mais profunda do Brasil, na qual o novo arranjo conservador, que alimenta a extrema direita, se revela além das demandas econômicas ou da pauta dos costumes.

É por dentro dessa colcha de identificações, estratificações sociais, fervor religioso, diferenças regionais e imaginação política que o autor reflete sobre as principais causas da “vingança dos bastardos”. Assim, torna-se possível examinar, de fato, como pensam esses grupos sociais ressentidos que passaram a se organizar nas sombras da principal promessa da Constituição Cidadã – a construção de um Brasil democrático, justo e igualitário, sem discriminações e com garantias universais.

Sinopse:

"O problema sobre o qual este livro se debruça se resume nesta pergunta: por que uma parcela significativa dos pobres — conhecidos hoje como os 'pobres de direita' —, os quais teriam muito a perder com Bolsonaro, representante das piores elites nacionais, votaram nele duas vezes de forma maciça? [...] Isso implica que as pessoas pobres votaram em Bolsonaro por causas morais, e não econômicas. 
E essas causas morais não são as que imaginamos que sejam, como o conservadorismo moral e a pauta de costumes. Ao contrário: o apego à pauta de costumes e ao moralismo convencional são decorrentes de outras feridas morais mais importantes, como a experiência da humilhação cotidiana — a qual não é compreendida em seus efeitos reais. Quais são essas causas morais? Por que elas ganharam os corações e mentes de tantos oprimidos? Essas são as questões mais importantes para entendermos o Brasil atual."

domingo, 29 de setembro de 2024

Sovietistão - Erika Fatland


Com o colapso da União Soviética em 1991, as cinco repúblicas da Ásia Central até então controladas por Moscou obtiveram a própria independência.

Ao longo de setenta anos de domínio soviético, Turcomenistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão, os países que, das cadeias de montanhas mais altas do mundo ao deserto, antes marcavam a rota da Rota da Seda, de alguma forma passaram diretamente da Idade Média ao século XX. E após vinte e cinco anos de autonomia, todas as cinco nações ainda parecem estar em busca da pró pria identidade, estreitas entre o leste e o oeste e entre o velho e o novo, no centro da Ásia, cercadas por grandes potências como a Rússia e a China, ou por vizinhos inquietos como o Irã e o Afeganistão.

Os contrastes as unem: décadas de domínio soviético coexistem com administrações locais, a exorbitante riqueza do gás e do petróleo com a mais extrema pobreza, o culto à personalidade com costumes arcaicos ainda vitais.

Sovietistão é uma jornada inesquecível pela Ásia Central, uma das regiões mais misteriosas e carregadas de história do mundo, onde as paisagens mais impressionantes da antiga Rota da Seda se sobrepõem às ruínas da utopia comunista.

Complementando

A obra mistura elementos de reportagem, história e diário de viagem, proporcionando uma visão abrangente sobre como esses países enfrentaram os desafios do pós-soviético e mantêm suas identidades em meio a influências externas.

Fatland explora as heranças culturais e políticas da era soviética, as autocracias modernas que governam a região e as tradições únicas de cada país. Ela também aborda questões como direitos humanos, corrupção, a complexa relação com o islã e as peculiaridades geográficas dessas nações.

O livro é uma combinação de observações pessoais e análises históricas, que trazem à tona tanto os contrastes como as semelhanças entre esses cinco países que compartilham um passado comum, mas seguiram caminhos distintos.

O enredo oferece uma rica e detalhada narrativa sobre uma região frequentemente negligenciada, mas de grande importância geopolítica. Ao longo de sua jornada pelos cinco países da Ásia Central, a autora explora as diversas dinâmicas culturais, sociais e políticas, enquanto investiga o impacto duradouro do regime soviético nessas nações, agora independentes.

Cada país apresenta uma história única de luta e adaptação no período pós-soviético. No Cazaquistão, Fatland testemunha o rápido desenvolvimento econômico alimentado por seus vastos recursos naturais, ao mesmo tempo que observa o controle rígido do governo autoritário. No Turcomenistão, ela descreve a opressiva ditadura de culto à personalidade e a isolação internacional do país. Já no Uzbequistão, Fatland observa a herança histórica da Rota da Seda e como o autoritarismo e a repressão política ainda moldam a vida cotidiana.

Quirguistão e Tadjiquistão, os dois países mais pobres da região, enfrentam grandes desafios econômicos e políticos. No Quirguistão, Fatland explora as revoluções recentes e a tentativa de estabelecer uma democracia, enquanto no Tadjiquistão, ela se aprofunda nas cicatrizes deixadas por uma devastadora guerra civil que ainda afeta a população.

Além da política, a autora retrata a vida das pessoas comuns, contando histórias de indivíduos que lidam com as contradições de viver em sociedades que, embora marcadas pelo autoritarismo, também preservam antigas tradições e práticas culturais. Fatland consegue humanizar a região, mostrando como o legado soviético ainda pesa sobre as novas gerações, mas também destacando as profundas raízes culturais e a resiliência de seus habitantes.

Um relato fascinante e profundamente informativo que, além de narrar a trajetória histórica e política da Ásia Central, também discute os dilemas contemporâneos dessas sociedades, oferecendo uma visão rara de uma parte do mundo que continua a desempenhar um papel estratégico na política global.

domingo, 22 de setembro de 2024

Um conto para ser tempo - Ruth Ozeki.


Nao é uma jovem de dezesseis anos que vive em Tóquio e decide que há apenas um modo de escapar da solidão e do bullying, mas, antes de colocar fim a tudo, ela planeja documentar a fascinante vida de sua bisavó, uma monja Zen-Budista de cento e quatro anos. Do outro lado do Pacífico, em uma remota ilha do Canadá, Ruth encontra na orla da praia uma lancheira da Hello Kitty ― possivelmente detritos do devastador tsunami que atingiu o Japão em 2011. 

Dentro, há vários objetos desconexos, como um velho relógio de pulso, algumas cartas amareladas e o que aparenta ser um diário escrito por uma garota japonesa...

A cada página lida, Ruth se aprofunda cada vez mais nas histórias e é levada a um passado à beira do colapso. Em meio aos relatos escritos por mãos sôfregas e ansiosas, ela tem o presente e o futuro transformados conforme se aprofunda no abismo da jovem. Ainda há tempo para reconciliar o futuro de um passado condenado? 

Em Um conto para ser tempo, Ruth Ozeki explora as relações entre leitor e escritor, passado e presente, fato e ficção, história e mito, e a essência do próprio tempo, apresentando um enredo deslumbrante sobre humanidade, afeto e pertencimento.

domingo, 1 de setembro de 2024

A lanterna das memórias perdidas - Sanaka Hiiragi


A lanterna das memórias perdidas é um romance japonês profundo e comovente a respeito do que é realmente importante na vida e do encanto de reviver uma última vez seus melhores momentos.

Num estúdio fotográfico onde um antigo relógio de parede não funciona mais, Hirasaka gentilmente recepciona seus visitantes, um por um, em um confortável sofá de couro, lhes oferece a bebida de sua preferência e revela o que os aguarda.

Pegos de surpresa, os visitantes descobrem que estão em um ponto de transição entre a vida e a morte e recebem uma grande quantidade de fotos — correspondentes às suas lembranças, onde cada fotografia representa um dia de suas vidas — e a incumbência de selecionar uma para cada ano. Com essa missão, ganham a oportunidade ímpar de revisitar sua memória mais preciosa e tirar novamente a foto do momento em questão — incapazes de fazer qualquer coisa para alterá-lo e invisíveis para o mundo. Forma-se então uma espécie de lanterna giratória de memórias com as fotos dos momentos mais significativos que viveram, proporcionando a eles a chance única de assistir à própria vida passar diante de seus olhos.

Dentre tantas, conhecemos três pessoas que por ali passam, suas vidas entrelaçadas por amor, empatia e resiliência: uma professora de noventa e dois anos, um membro da Yakuza de quarenta e sete anos, e uma criança.

Diante das diversas opções de memórias a serem revisitadas, qual cada um escolherá? E por que Hirasaka, o único que não tem lembranças da própria vida e que possui apenas uma foto, é o responsável por cuidar desse estúdio?

Em meio a esses e outros mistérios, tudo que se sabe é que as fotografias guardam uma poderosa força invisível.

domingo, 25 de agosto de 2024

O dia em que Napoleão quis invadir o Brasil - Marco Morel


Descubra os planos audaciosos que por pouco não alteraram o curso da nossa história. Onde estratégia e aventura se encontram nas páginas esquecidas do tempo.

A obra nos transporta para uma intrigante faceta pouco explorada da história napoleônica: os planos de invasão do Brasil. Ancorado em pesquisas pioneiras e documentos recém-descobertos nos arquivos franceses, Morel desvenda 17 tentativas audaciosas de Napoleão Bonaparte de estender seu domínio imperial até as terras brasileiras, entre 1796 e 1808.

Neste trabalho meticuloso, o autor tece uma narrativa cativante que explora não apenas as estratégias militaristas e os interesses geopolíticos da França, mas também a complexa rede de intrigas e os personagens quase esquecidos que desempenharam papéis cruciais nesses complôs. Da tentativa de estabelecer um "Brasil Francês" às repercussões desses planos na corte portuguesa, que acabou por migrar para o Rio de Janeiro, Morel explora o que poderia ter sido um ponto de inflexão histórico.

O livro revela como essas conspirações, permeadas de ambições, ideais e até pura ganância, variavam desde complexas manobras diplomáticas até esquemas de reconquista e recolonização. Morel não apenas relata as tentativas, mas também contextualiza as ambições de Napoleão contra o pano de fundo das lutas anticoloniais, a influência do poder naval inglês, e os desafios logísticos de uma operação militar transatlântica.

Além disso, O dia em que Napoleão quis invadir o Brasil provoca reflexões sobre como o Brasil poderia ter sido moldado sob o jugo francês, ponderando sobre as possíveis alterações culturais, sociais e políticas. Morel engaja o leitor com questões sobre identidade nacional e o curso alternativo que a história brasileira poderia ter tomado, tornando esta obra uma leitura fascinante e indispensável para os entusiastas da História.

"O leitor há de se inclinar diante do sopro de ineditismo e inteligência contido neste livro, em que o autor desvela segredos militares até então silenciosos, expondo-os, revirando-os e roendo-os até os ossos. Além de observar as regras da melhor historiografia, apoiado numa multidão de documentos e da bibliografia especializada, ao trazer uma grande contribuição à História, [este livro] é uma leitura fascinante e imperdível!"

Do Prefácio da obra, por Mary Del Priore.