Esta
obra pinta o mais provável dos futuros se continuar seguindo tais
caminhos.
Parte:
1 (Portugal)
Ter
Livros é Crime. Denuncie.
“Era
a última tarde do inverno e o vento embrenhava-se nas rachaduras do
muro quando ela atravessou a rua sob o céu cinza, os olhos baixos
evitando a placa sombria. Era um daqueles períodos da História tão
tragicamente adultos que o absurdo só se faz visível aos olhos da
infância: num mundo de sinal invertido, a base da montanha é seu
ponto mais alto, e o pico, o vértice do abismo; não poderia por
outra razão, o que ali se passou só poderia mesmo ser contado pelos
olhos de Alice.” (fragmentos do livro).
A
menina vinha da escola e a estrada era lotada de placas do tipo “Ter
livros é crime. Denuncie.” até no bosque e isso lhe causava uma
certa angústia. Não entendia como um monte de folhas velhas com
dedicatória poderia fazer algum mal. Como poderia ser banido.
Sentia-se bem quando ouvia histórias, principalmente, quando sua avó
lhe contava. Mas agora era estava transgredindo a lei ao guardar esse
bem. Chegando em casa envolta em seus devaneios ouvira o som
inconfundível fragmentadora de papel, sua preciosidade fora tritura
sem piedade por sua mãe. A menina chorava torrencialmente abraçada
as partes de trituradas que outrora fora um livro, restando apenas as
memórias das histórias contadas por sua avó. Agora a menina estava
completamente só.
Outro
dia fazendo o mesmo percurso de costume pelo bosque percebeu o
palacete estava aberto, curiosa e astuta que era fora conferir quem
seria seu novo vizinho. Acercou-se da cerca de madeira e ficara
espionando até ver um homem senil. Aproximara cuidosamente com seu
caderninho (hábito pelo qual sofria bullying) até o homem e
começara a falar sobre sua gata, doninha do bosque, as histórias
que a avó contava… Os pais sempre davam a desculpa de estarem sem
tempo, e as histórias da escola nunca tinha rumo fixo sempre ficavam
mudando o enredo a todo momento. Isso irritava-a por isso preferia
livros. Por fim se apresentaram, ela como Alice, mas todos a chamava
de “menina”, ele por Santiago Pena. Ela voltara para casa numa
manhã seguinte porque sabia que teria alguém para conversar. Mal
sabia ela que amigo mudaria sua vida para sempre. A menina
acompanhara o pai ao palacete de Santiago para dar boas vindas em
nome da família Crástino. Para a alegria da menina, Santiago,
passou a frequentar sua casa. Ela posta de lado por todos da família
(como um objeto que perdera a graça). Em um jantar na casa dos
Crástino, Santiago, ele convidou a todos para uma exposição no
centro de fotografia. Que por sinal também estava sendo banida
principalmente a impressa, qualquer conteúdo visual e intelectual
teria que ser facilmente manipulada ou sofreria duras penas da lei. A
conversa foi esquentando e Santiago, desconversou perguntara sobre o
porque da menina passar pelo bosque sendo a estrada mais segura e
alegaram que já falaram várias vezes com ela sobre isso. Ele também
estava intrigado em porque a menina foi para uma escola tão longe de
casa e a resposta não poderia ser tão simples: “foi o aplicativo
que escolheu”. Não levaram em conta a distância, deixaram tudo
por conta de um aplicativo que faz escolhas aleatórias segundo o
pai. Santiago ainda fora ridicularizado pelos demais. Nisso chega a
menina com suas bonecas pedindo a ele que lhe contasse uma história
os pais tentaram ignorá-la, mas o convidado interveio e fez sua
vontade. A menina ficara encantada lembrara da sua avó e do seu tio
que liam para ela de maneira igualmente mágica. A cereja do bolo foi
o truque com a corda para que as bonecas não arrastassem no chão.
Despedira-se e voltou para seu palacete.
Horas
depois a polícia cercou seu palacete.
A
menina ficara parte da madrugada anotando tudo o que lembrava da
história, pensara nele como o “avô de letrinhas”. Queria saber
quem era o tal Hilário Pena. Qual seria a história que estaria no
caderninho dele? Ela mal poderia imaginar, mas teria de crescer muito
ainda para desvendar a história.
Parte:
2 (Brasil, muitos anos antes..)
Agora
vamos falar de Hilário e seu percurso para se tornar Santiago.
Hilário
Pena, neste tempo tinha vinte e dois anos.
Em
um dia frio em São Paulo, fora encontrar com seus amigos.
Distraiu-se com a discussão da mesa ao lado, sobre proibição e
queima de livros, enquanto seus amigos não chegavam. Na época ele
não possuía nenhuma relação com o mundo da literatura. Marcado
pela miséria da infância ao bullying sofrido na faculdade de
engenharia por roupas muito simples. Chegaram os seus colegas de
trabalho parabenizaram-no rapidamente pela promoção no estágio e
logo o deixaram de lado. Ele circulava bêbado pelo bar quando viu a
notícia sobre a nova medida de redução da criminalidade que,
consistia em um exame que mapeava o gene violento do indivíduo,
prevendo os crimes mais graves. Estava meio desatento ao noticiário
diferente dos seus amigos se encantaram com o decreto.
Tudo
aconteceu em segundos, logo ouvira alguém berrando um aterrorizante
“não”, a seguir a pele sendo rasgada. O homem da mesa ao lado
estava se esvaindo em sangue. Hilário pena, tinha nas mãos uma
garrafa quebrada.
Acordara numa cela com uma ressaca
monstruosa e sem realmente lembra do ocorrido. Todas as suas memórias
estavam envoltas em névoas. Tentara lembrar de como foi parar ali
sozinho, pois segundo ele só defendera o amigo. No dia seguinte
recebeu seu advogado, Carlos Castelo, que era do Estado. Até então
Hilário, pensara era um advogado da parte de seu mentor senhor
Andrada. Pois ele veio se informou do caso e pedira para nunca mais
ser incomodado e saiu sem vê-lo. Os amigos dele deram depoimento
alegando que, depois da confusão fora Hilário que quebrou a garrafa
e fincou no pescoço do homem. Ao saber dos depoimentos dos até
então ‘amigos’, ficara em completa fúria, ele acreditava
cegamente que fora um ato de defesa nada mais que do que isso.
Na sala além do advogado haviam dois agentes alegando que fizeram
exames genéticos para testar sua tendência criminosa. Por os testes
acusarem negativos para o gene-C, ele escapara da pena de morte, mas
ficaria preso até os testes serem mais conclusivos. Fora o único no
sistema de criminologia a dar negativos. Estava completamente só, em
uma prisão de estrangeiros de nome Babel. O advogado dissera que
naquela penitenciária havia uma biblioteca, mas essa era um lugar em
que Hilário passaria longe
Meses depois chegara o primeiro
julgamento. Não havia nenhuma testemunha para ajudá-lo além do
advogado do Estado. O mesmo incentivara a tentar sensibilizar o júri.
O julgamento foi adiado por um documento do Grupo Especial de
Trabalho da Comissão.
Semanas se passavam e Hilário e o
advogado exausto, tentava achar uma brecha plausível. Explicara que
o Ministério da Polícia Criminal tinha solução para quem fosse
preso sem o tal gene-C. Havia as mais diversas teorias, mas na falta
de provas continuaria preso.
Tempos depois houve o segundo
julgamento. Fora interrogado duramente, mas mais insistira que fora
somente para defender seu amigo. Quando passou para seu advogado que
expôs todas as suas mazelas perguntara se estava arrependido
Hilário, respondera que não e era uma questão de honra. A seguir
vieram várias testemunhas alegando que Hilário tinha um
comportamento estranho e seria capaz de matar. Sem chances de dar sua
versão, Hilário fora condenado até que os exames apontassem que
ele possuía o tal gene-C, e seria executado. Saíra do tribunal
direto para a penitenciária Babel, sem compreender como ele foi
parar nessa situação.
Um
certo dia em um de seus banhos de sol notara algo escrito no cano do
pátio como “não morra aqui”, seguiu-o por vários pavilhões
até chegar numa porta com uma placa escrita “Biblioteca” em
vários idiomas. De repente o silêncio fora quebrado, lembrara que
havia passado da hora de seu banho de sol. Ele ficara sabendo era
famoso em Babel. O atendente se empolgara apresentando os mais
diversos livros, mas Hilário o dispensara e foi correndo para sua
cela, porque os outros estavam no pátio.
Anos
se passaram, as empresas começaram a ter autorização para vender
kits de teste do gene-C. Todos os pais tetavam seus filhos com medo
que tivessem. Os laboratórios não deram conta da demanda
desenfreada por testes. Surgindo, assim, o contrabando dos kits e uma
nova onda se fez. Com manipulação genética os laboratórios podiam
criar filhos “perfeitos”, logo as expressões lebenborn (fonte da
vida), pureza racial, voltaram a ser mencionadas.
Hilário
tinha vinte sete anos, quando recebera a última visita do advogado e
agradecera pelos seus serviços durante todos esses anos. Perguntara
sobre as imagens gravadas no dia fatídico. O advogado estava sendo
ameaçado e sofrendo pressões externas.
Deste
modo diria o que continha nas gravações assim que Hilário parasse
de acreditar nas histórias que inventara para si próprio. As
imagens mostram Hilário escondido e de depois da briga o mesmo
chutando o homem, quebrando uma garrafa e cortando o pescoço da
vítima. Mesmo assistindo as imagens, continua a alegar que ele que
era a vítima e o homem estava armado, e sim poderia matar seu amigo.
O advogado fora suspenso pelo caso e por ser contra a pena de morte.
Na manhã seguinte o encontraram morto. Começara a queima de arquivo
assim Hilário pensara.
A
neurose o possuía qualquer coisa era motivo de complô. Distraía-se
com um jogo de xadrez que ganhara dos guardas.
Uma nova
avaliação foi realizada. Em uma sala macabra onde os agentes
digitalizaram suas impressões digitais, respondera uma série de
perguntas e colocara seu número de presidiário. Concluído o teste
Hilário vira na tela a palavra “negado”. E na semana seguinte o
mesmo. Dessa vez ficara extremamente arrasado. Em pleno desespero
cortara o cobertor em tira amarrara no pescoço e saltou.
Hilário,
acordara no hospital horas depois. Lá o médico explicara que quando
saltara o cobertor arrebentou e batera com a cabeça, tendo uma
concussão. Semanas depois quando voltara a para cela descobrira que
havia um vizinho e ficara enormemente feliz. Conhecera então Antônio
Aldo Antunes Santos de Almeida, que ficara extremamente grato por ter
sido salvo do incidente no pátio momentos antes e contara como fora
preso por importar livros. Hilário, por sua vez contara suas
mazelas, sua história até então. Estava curioso no porque seu
vizinho de cela fora parar naquele pavilhão se não tinha o gene-C,
e não era violento. Ao contrário tinha dinheiro e muita influência
por isso conseguira aquela cela privativa.
Hilário
estava a mais de quinze anos sem contato com o mundo, não fazia
ideia das reviravoltas que a sociedade dera. Os livros foram
terminantemente proibidos e surgira o “modelo G.A.T.E”. Certos
comportamentos que pensamos ter sido apagados no imaginário coletivo
voltaram a se repetir como: depredação de livrarias, queima de
livros… Nada impresso era permitido. A parte boa era que no Brasil,
tudo continuava na mesma, a proibição não chegara. Ficara
intrigado com a quantidade de dinheiro que poderia ganhar importando
livros para as terras tupiniquins e outros países. Diante da
empolgação de seu amigo falando sobre de como herdara o gosto pelos
livros, Hilário contara que ali, em Babel, havia uma biblioteca. Em
seguida correram para lá, e viram-na em estado de abandono com
camadas de poeira e mofo. Antônio, ficara fascinado pelas raridades
que encontrara já Hilário, só acompanhara-o, mas pegara um livro
que continha exercícios de matemática anotado para ler a noite.
Passara
a noite lendo e pensara ser desnecessário todo aquele drama que o
personagem vivera. Antônio achou um absurdo tal simplória resenha
que seu amigo fizera a um clássico e empolgara-se. Perguntara o
porque de Hilário desprezar tanto a biblioteca estando ele a muito
tempo preso. Simplesmente porque para ele era só um lugar empoeirado
com um amontoado de papéis, nada muito profundo que desinteresse.
Antônio propôs-se a organizar e arrastar seu amigo para ajudar.
Conseguira horas a mais fora da cela e fizera todo o cronograma de
limpeza e organização na mente, era a empolgação em pessoa. Na
releitura indicada por seu amigo, Hilário enfim percebera toda
poesia que antônio descrevera antes. Trabalhavam arduamente na
faxina e organização da biblioteca e se deleitavam nas relíquias
que lá ainda existia. Depois do toque recolher mais uma madrugada
leitura, estava começando a compreender o universo literário para o
contentamento de Antônio. Ele explicara o significado de “festina
lane”, (apressa-te lentamente), expressão complexa cujo os termos
antes de se anularem, complementam-se. E falara de onde veio seu
segundo nome “Aldo”, que era de um editor chamado Aldo manuzzio.
O tempo passara com uma certa leveza.
Hilário
renascera através dos livros.
Enfim chegara o dia da
reinauguração da biblioteca, que não teve nenhum tipo de festejo,
com só uma nota interna dizendo haveria livros disponíveis. Demorou
um cerco tempo para haver algum leitor.
A noite Hilário
recebera um caderninho que Antônio encomendara ao seu advogado e
contara da dificuldade em obter esse item praticamente proibido.
Um
dia chegaram na biblioteca e perceberam que as prateleiras haviam
sido trocadas por madeira de cerejeiras. Foi um gesto de
agradecimento dos outros presos. O cavalete lotara diariamente de
indicações de leitura e mensagens de apoio. Hilário começou a
sentir-se útil, em ter um propósito na vida.
Antônio
fora solto, mas antes de sair entregara para seu amigo uma coordenada
para quando ele sair, algum dia, se dirigisse a tal local. Hilário
continuava em sua missão na biblioteca que tinha cada vez adeptos.
Começara a ler os livros não catalogados, obras raríssimas, os
livros tornaram seus aliados contra o tempo e solidão. Nisto
passam-se mais quatro anos, Hilário Pena agora tinha quarenta e dois
anos, e mais exame a fazer. Desta vez, só havia um agente na sala, e
o resultado apontou “negado” novamente. Em poucos dias retornou a
sua rotina e percebera que levaria mais de uma vida para ler todos os
livros que listara. Longe da civilização caótica onde proibia-se
livros, em Babel, o silêncio dos livros reinava como música
a cada virada de página e cochichos. Assim, passara dois anos.
No
dia seguinte escutara gritos em vários idiomas, tinha um mau
pressentimento e fora a biblioteca. Lá vira os livros sendo
retirados e levados para uma incineradora. A proibição aos livros
havia chegado a Babel. Hilário voltara a ficar deprimido e com
pensamentos perturbadores. Pensando no passado e se deu conta que os
personagens que criara para si mesmo eram totalmente inconsistentes.
Lento e gradualmente a ficha foi caindo. Eis que finalmente admitira
que matara Eduardo Inocêncio, o homem da mesa ao lado. Havia passado
mias três anos em meio a remorsos e realizou-se seu último teste.
Ao retorna a cela recebera a notícia que o surpreendera, estava
livre graças a um alvará de soltura. Saíra da penitenciária com
roupas doadas e um cartão de transporte.
Saindo
de Babel, no ponto de ônibus em frente vira um carro parar do outro
lado e teve a sensação de ser seguido. Pegara o primeiro ônibus
que aparecera. Quando soltara do ônibus, logo avistou o individuo do
carro correndo atrás dele dizendo que era advogado de Antônio e
acompanhara todo seu caso. Explicara que houve um desencontro da
parte dele, ele chegara minutos depois de Hilário ter saído da
penitenciária, e tinha instruções para levá-lo até o senhor
Antônio Aldo em Portugal. Ele concorda em ir com uma condição a de
ir na casa do homem que matara. Lá encontra a mãe de Eduardo, uma
senhora de memória bastante debilitada. A lucidez vinha como ondas
do mar, hora lembrara que o filho estava morto, outra que o filho ia
chegar a qualquer momento da faculdade. A senhora arruma a calça de
Hilário e em seguida o olhara como o reconhecesse, como o homem que
assassinara seu filho.
Enfim
pegar o avião para Portugal, para rever seu amigo estava muito fraco
no hospital. O encontro foi repleto de comoção e nostalgia, mas
sobretudo de instruções sobre seus bens que Hilário herdaria.
Antes de seu último suspiro Antônio, pedira que ele fosse até as
coordenadas que, um dia, entregara-o.
Caminhando
pelas ruas do Porto, encontra um cartaz com o seguinte comunicado: “Esterilização preventiva: denuncie portadores do gene-C”.
Ruas
desertas, lixo, fedor, indivíduos voltados para seus eletrônicos.
Ao olhar ao redor sentia que o tempo roubara-o a jovialidade, o viço.
Observara as pessoas como um verdadeiro sociólogo, um filósofo.
Flagrara-se constantemente comparando sua juventude interrompida com
os
novos tempos.
No
dia seguinte acompanhara o velório de seu único e verdadeiro amigo,
Antônio, a distância. Só
lhe restara o silêncio. Recompôs-se
e acompanhara o advogado até o seu escritório havia detalhes
acertar e instruções a Hilário. A
primeira delas era deletar toda e qualquer tipo de prova do crime
pela lei do esquecimento. Segundo mudar o nome de Hilário para
Santiago Pena de Jesus. E terceiro e mais importante nomear a
fundação que seu amigo dissera para criar, colocara “Fundação
Cultural A.S.A.
As
coordenadas dava em uma vinícola chamada “Quintas dos Imortais”,
uma das propriedades que pertencia a ele agora. Ficara encantado com
a cidadezinha. Chegando na vinícola, teve acesso ao portão e casa,
mas o gps dizia que não havia completado todo o percurso. Dentro da
casa tinha uma estante com livros falsos e uma alavanca, Hilário ria
do clichê que seu amigo aprontara. Depois de andar centenas de
metros túnel a baixo, abria um portão de chifre, pensara estar no
paraíso. Lá continha milhões de livros todos iluminados em
prateleiras de carvalho. Numa mesinha próxima havia um bilhete
dizendo: “para que tu saibas a história deste lugar”. Passara
meses na biblioteca infinita acertando os detalhes fundação e
escrevendo sua própria história em seu caderninho. Nesse tempo o
que mais gostava além dos livros, era de caminhar até a
cidadezinha.
Parte
– 3
De
volta aos olhos de Alice. (Portugal)
A
menina não cabia em si de tamanha felicidade, agora ela tinha seu
avô de letrinhas. Ansiava pelo evento de Santiago. Era pura sede de
conhecimento que os livros provocara em um ser sabido. Santiago
discursara agradecendo aos que foram, eram bem poucos, mas já era
algo. Aparecera a polícia ordenando que cancelassem o evento e
vasculharam tudo em busca de itens proibidos (livros).
Na
semana seguinte, Santiago fora recebido pela mãe da menina toda
insinuante na casa dos Crástinos. A menina achara o comportamento da
mãe muito estranho na época. Santiago contara que os policiais
foram na casa dele revirou-a por inteira. Eles nunca entenderiam o
esforço do vizinho com os livros. E a menina ganhara mais uma
história de seu avô de letrinhas.
Santiago
viajara por meses para tristeza de Alice. Quando chegara fora direto
para casa da miúda, tinha um trato com a menina de contar-lhe
histórias toda semana. O tempo passara em um ritmo mais tranquilo
com as histórias garantidas sempre depois do jantar, hora que toda a
família ficara reunida para ouvi-la. Alice contemplava este momento
em que os pais apenas conversavam sobre os contos, o que a fazia
lembrar da casa da avó.
Era
natal, todos na família estavam com aquele humor natalino até
Beatriz, a carrancuda. Santiago se integrava a família como um
amigo, um irmão que o pai estimava-o muito. A menina ganhara um
cordão que simbolizava a expressão “festina lane”, (apressa-te
lentamente). Segurara-o como se fosse um amuleto de muito poder.
O
caderno escrito Hilário Pena, caíra no quarto da menina quando ela
contara seu segredinho, que era caderninhos escondido dentro das
bonecas. Estava diante de um dilema tortuoso para uma menina sabida,
ler ou não ler. Talvez ele algum dia contasse para ela, pensara.
Quando
o vira chegar desembestara a correr para entregar o caderno em
segredo. Como era de costume o assunto a mesa era as viagens de
Santiago, que descrevia sempre com paisagens espetaculares. A
história da “a menina e o tigre”, rendera porque os Crástinos
não tinha senso lúdico e não compreendera as reviravoltas do
conto. Com Santiago a família sentia-se completa e a recíproca era
verdadeira. A menina pensara ter visto alguma na família.
Certo
dia a menina vira sua irmão na porta dele e intuiu que ali tinha
coisa. Santiago estava completamente constrangido com rumo da
conversa de Beatriz. Ela o vigiara pelas câmeras e divertia-se com o
passatempo. Ele não sabia se poderia confiar em tal criatura, cínica
que era. E continuara provocando-o dizendo que seu pai traia a mãe
pela internet, e insinuando que a mãe se produzira bastante quando
ele ia jantar na casa dela e outros dias nem jantar havia. Sai sem
mais, sem menos. Santiago não entendera nada e a menina que espiava
menos.
Mais tarde o pai tivera uma enxaqueca terrível
depois que fora imprensado por Beatriz, e dissera para Louise
suspender suspender os jantares com Santiago.
Passara uns
dias, a mãe comunicara que iria a praia com as meninas,
principalmente por Beatriz aceitar e convidara Santiago.
Assim
que chegaram na praia, Beatriz começara. Primeiro no celular
debochando da companhia, depois soltou “usa cada coisa…” “O
senhor não deveria usar essas coisas”. “Essa sunga. Parece ainda
mais velho.” E continuara desdenhando, insinuando-se, interrogando
o pobre Santiago. Felizmente não levara a sério, afinal, era apenas
uma garota. A mãe chegara trotando como um animal muito divertido.
Pelo olhos da menina. Peito e bunda num movimento forçado em
direções opostas, até Beatriz olhara e a cena e pensara ser
provocação ou competição. A mãe, que nunca fora mãe de fato,
ficara toda zelosa com menina. Dando falsas esperanças. Beatriz
voltara da casa de veraneio, atirara na mãe o biquíni que a mesma
disse ter esquecido e a deixara falando sozinha. Como de costume
sobrara para a menina, que levara a culpa pela cicatriz da cesariana
e sendo causa de todo seu stress. Começara a chover e santiago
ficara com a missão de tirar a miúda da praia. Chegaram na casa, as
malas já estavam prontas, a mãe pôs milhões de motivos para
voltar e assim fora.
Dias
depois, a menina correra para casa de Santiago, mas no caminho vira a
irmã na porta dele toda insinuante desculpando-se pela cena na
praia. Segundo ela para a mãe ele seria só casinho, mas para ela
Santiago seria o homem perfeito. Ele já estava perdendo a paciência
com todo o blá, blá, blá, da garota. Por fim saíra da casa
trotando igual a mãe. A Menina não sabia no que pensar, ela vira
uma cena e a irmão contara outra a mãe.
Sem
os jantares com Santiago, a menina ficara órfã de histórias e do
avô de letrinhas. Passara a noite lembrando da casa da avó, para
ela era como se houvesse uma fenda temporal.
A
menina vira a mãe sair pela porta de trás e ir em direção ao
palacete. Para seu azar ele estava acompanhado por Elizabeth, que
trabalhava quando ela interrompera. Louise tentara convidar-lha para
um jantar, mas Santiago a despachara rapidamente. Insatisfeita vai
encher o marido de intrigas sobre o vizinho como: o seu estilo de
vida era muito esquisito e supõe que a tal Fundação e seja uma
faixada. Maquinara o plano para coletar informações, o jantar. A
miúda não entendera nada, para ela se alguém quisesse saber algo
era só perguntar simplesmente. Enquanto isso os pais andavam ainda
mais estranhos do que o normal.
A
mãe repetira o mesmo ritual, desta vez, ligara para primeiro e pediu
para que ele desse uma passadinha na casa dela. A menina fora
impedida de pedir histórias e fica no mesmo ambiente, mas dera um
jeitinho de escutar. A mãe dissera que a menina simplesmente
acontecera por esta razão na merecia trato algum. Diferente de
Beatriz que teve edição no DNA, sendo assim, programada para ter o
maior Q.I., na mais conceituada clínica Fonte da Vida. Santiago
ficara atônito com tal informação, era a mesma de décadas atrás
só que desta vez bem mais sucedida. Perguntara o real motivo de
tê-lo chamado. Primeiro era o episódio Beatriz, que os pais
interpretaram como abuso, ele esclarecera, pois a pais sabem a filha
que tem. Segundo era uma história com a mãe que dizia estar sendo
stalkeada por alguém da academia no início, mas o teor das
mensagens pensara ser alguém bem próximo. A menina sabia que a mãe
nunca fora a academia. Louise continuara provocando-o com cara de
“ninguém gosta de mim”, até receber o balde que água fria, ele
considerava-a como uma irmã. O marido chegara e o jantar fora
confirmado para o final de semana. A menina intuíra que o motivo
para sua mão chamá-lo era outro, mas não compreendia qual.
No
dia do jantar era só ansiedade, a menina passara o tempo no bosque.
Assim que os convidados chegaram, Alice correra para os braços de
Santiago e não o largara o jantar inteiro. Santiago e Elizabeth
falaram animadamente sobre o que estavam trabalhando. A moça além
de estonteantemente linda, era culta e lutava para o fim da proibição
aos livros. Alice queria ser igual a Elizabeth, estava cheia de
ralharem com ela na escola e em casa. E como ela esperara veio o
momento tão aguardo a da história de nome “o mito da videira
encantada”. A miúda ficara verdadeiramente encantada com história.
Depois
que Santiago fora embora, a mãe ataca. Distorci toda a história do
dia que em que o vizinho estivera ali a pedido de Louise. O pai só
se incomodara como o fato de a menina gostar mais de Santiago do que
dele.
A
mãe fora novamente na casa de Santiago, tendo em mente um plano bem
mais ousado. No meio do assunto que inventara pedira a ele que lhe
tirasse o top e partira para cima. Nisso Beatriz flagrara a cena e
entra na casa de Santiago igual um búfalo. Dissera que alimentara
falsas esperanças até mesmo na menina. O circo estava armado!
Partira para casa na intenção de revelar ao pai o que acontecendo a
algum tempo.
O
mundinho da menina estava desmoronando. Não compreendia porque a mãe
e a irmã brigavam por Santiago se nem de gostavam de histórias. A
menina muita da sabida pensara e pensara até que, chegara a dura
conclusão: ela servira de joguete para que a mãe pudesse atrai-lo e
dar o bote mais tarde. Percebera então que não poderia confiar em
ninguém da família. Notara que quanto mais sabida ficava, mais seu
mundinho ficara envolto em névoas cada vez mais espessas.
Alguém
denunciara Santiago a imigração, o carro da polícia parou em
frente ao palacete, Felizmente os documentos estavam em ordem. Os
Crástinos o convidaram para um vinho. Beatriz, quase conseguira o
que tanto desejava dele no banheiro, mas ele escapara por um fio. A
mãe escutara tudo e pensara ser um sonho juvenil, poderia usar o
aplicativo randômico para tirar a dúvida.
Santiago
contara ao pai da menina que andara recebendo ligações de um
suposto frade o ameaçando, mas segundo o pai achara que era só
alguém se divertindo. Louise pede a Santiago para ajudar a
fotografar certo ponto no bosque.
A
menina sentira que algo muito ruim iri acontecer no seu pedacinho do
Éden.
Beatriz
vinha brigando com a menina por ter de acompanhá-la até em casa,
mas miúda teimosa que era convencera a irmã a passar pelo bosque
mesmo estando proibida. A menina fora deixada para trás como de
costume. Próximo ao rio encontra a irmã tirando foto de algo,
aproximou-se e vira que era Santiago todo torto e sanguentado no
chão. Ele tentara falar, mas a voz não vinha. Beatriz continuava no
celular digitando sem parar. Desvencilhou-se da irmã para tentar seu
avô de letrinhas, pegara o tablet e ligara para a emergência.
Santiago apontava freneticamente para seu caderninho que estava indo
rio abaixo. Fora impedida de pegá-lo pois sua irmã a levou a força
para casa. Chegando lá, a mãe ligara para polícia, e a menina
espiara a irmã aos prantos na sala. Escutara quando Beatriz dissera
que fota que tirara de Santiago a fizera popular, mas alguém nos
comentários que iria denunciá-la por não prestar socorro. Esse era
seu drama a popularidade arrasada em pouquíssimo tempo. Pois a
polícia batera na porta dos Crástinos em função do rastreamento
das fotos postadas. O guarda perguntara a garota porque não chamara
a emergência, o que carretou em omissão de socorro. Ela teria que
prestar depoimento na delegacia.
A
menina se desmanchara em lágrimas, segundo a mãe Santiago virara
estrelinha. Descera a cozinha e encontrara seu pai lavando um de seus
tacos de beisebol, nele saia um licor avermelhado e terra. Logo
observara que o pai não colocara junto a coleção, mas sim
escondido.
Alice
começara ligar os pontos do dialogo que escutara antes. Astuta como
era resolvera encontrar o áudio das câmeras. Agora sabia de toada a
trama que os pais fizeram contra Santiago, até as ligações
estranhas que havia recebido, era coisa de deles.
Não
conseguira dormir pensando em seu avô de letrinhas agonizando até
seu último suspiro. A menina questionara se era adota, pois não
havia nada em comum com aqueles estranhos monstruosos. Tinha fome de
conhecimento e eles de mesmice. Encontra Beatriz pela casa, havia
sons incomuns vindo do quarto dos pais. As duas assistiram todo o ato
carnal e foram para seus quartos. A menina continuara a chorar até
dormir.
Na
madrugada escutara os passos do pai e sons de latas. Tempos depois os
estalos das chamas que consumia a casa. O cheiro de corpos sendo
queimados espantavam os curiosos. Os bombeiros chegaram, enquanto
discutiam alguma estratégia, ouviram gritos do interior da casa. Um
casal de desconhecidos adentraram para salvar quem fosse. Latas de
querosene foram encontradas e três corpos carbonizados. As primeiras
imagens na TV, mostrara uma menina no colo de um oficial. O palacete
não fora atingido , mas o carro derretera junto com os livros.
****
Trabalhara
no escritório de arquitetura e maravilhava-se com seu trabalho.
Caminhara até a fundação A.S.A-S (A.S.A-Santiago). Teria uma
reunião decisiva se continuaria ou não na causa pelos livros
físicos. Alguns países já haviam cedido. Votara a favor para
continuar na luta contra proibição dos livros.
A
Quinta dos Imortais era um lugar que sempre a encantara. Montara seu
passado com anotações, intuições e uma pitada de imaginação
como gostara de pensar. Tinha o costume de ficar pensando. Pensara em
Santiago nos tempos de Babel, queria ter o poder de reescrever sua
história. Ele fora tudo para ela. Pensara em Elizabeth que a criara.
Mesmo não merecendo pensara nos Crástinos, que transformara seu
pedacinho do Éden em cinzas.
Agora
era ela que carregava o caderno de Hilário Pena. Juntara as três
histórias: Hilário, Santiago e a dela. Entre Barris de no túnel
antes de entrar na biblioteca infinita, escrevera na capa do caderno
“O Silêncio dos Livros”. Faria suas anotações de modo
linear, e entrara no paraíso da literatura.
Obs: Este resumo está em partes como no livro. A obra não conta a história de forma linear.