segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Livro Sobre o Autoritarismo Brasileiro - Lilia Moritz Schwarcz


Lilia M. Schwarcz examina algumas das raízes do autoritarismo brasileiro, bastante antigas e arraigadas, embora frequentemente mascaradas pela mitologia nacional.

Os brasileiros gostam de se crer diversos do que são. Tolerantes, abertos, pacíficos e acolhedores são alguns dos adjetivos que habitam frequentemente a mitologia nacional. Neste livro urgente e necessário, Lilia M. Schwarcz reconstitui a construção dessa narrativa oficial que acabou por obscurecer uma realidade bem menos suave, marcada pela herança perversa da escravidão e pelas lógicas de dominação do sistema colonial.
Ao investigar esses subterrâneos da história do país — e suas permanências no presente — a autora deixa expostas as raízes do autoritarismo no Brasil, e ajuda a entender por que fomos e continuamos a ser uma nação muito mais excludente que inclusiva, com um longo caminho pela frente na elaboração de uma agenda justa e igualitária.


domingo, 18 de agosto de 2019

Viajando pelas Séries #015 - The Family - Democracia Ameaçada


Eu sempre me perguntei se existe um poder acima do poder. De modo que o poder maior que conhecemos não é mais do que uma marionete do grande e efetivo poder do qual jamais ouvimos falar. Como se tudo no mundo, até mesmo as guerras, fosse apenas um teatro decidido em um conluio promovido por esse poder acima do poder. Mas enveredar por aí, a partir de uma mera sensação de criança ou adolescente, não seria nada além de uma teoria da conspiração com tons de lenda urbana. No entanto, ao assistir a nova minissérie documentário original da Netflix, aquelas conjecturas de antes passam a tomar forma e ganhar um status de real.


The Family: Democracia Ameaçada começa com uma proposta narrativa à qual não tenho grande admiração, misturando filmagens de reconstituição entrecortadas com os depoimentos de pessoas da vida “real”. De início, tive dificuldade em definir se se tratava de um mockumentary (documentário ficcional) ou se, de fato, era um documentário tendo como objetivo algo próximo da realidade (lembrando aqui que documentários, apesar de supostamente terem um compromisso com a verdade, assim como todo e qualquer jornalista a priori, não passam de uma de várias possíveis representações de verdade). Após alguns episódios, dos 5 que constituem a série, ele abandona esse estilo narrativo e foca diretamente mais no padrão que conhecemos desse gênero. Inspirado em dois livros do principal locutor, Jeff Sharlet, a minissérie nos apresenta um grupo de características secretas com os grandes figurões do poder norte-americano (sejam eles republicanos ou democratas), mas que se unem em torno de um único mandamento: “Jesus plus nothing” (Jesus e mais nada, ou seja, nada além de Jesus). A ideia dessas reuniões “invisíveis” é colocar os ensinamentos de Jesus no meio político e expandi-los mundo afora.



A direção de Jesse Moss vai nos colocando dentro da existência desse grupo, que surge de uma verdadeira distorção da Palavra de Deus, ao extinguir da Bíblia todos os seus livros, deixando apenas os Evangelistas e Atos dos Apóstolos, o qual rebatizam como “Atos dos Embaixadores”. Liderados por aquele que chamam de “o homem mais poderoso de Washington do qual jamais ouviu falar”, Doug Coe, esse grupo existe há décadas e consegue unir em torno da política norte-americana o que eles consideram ser o padrão tradicional pregado pela família cristã. Não à toa, eles se autointitulam “The Family” (A Família). E, com este viés ideológico, supostamente acima do político, tentam fazer os EUA caminharem em uma jornada que enalteça os valores cristãos, bem como tantos países quanto puderem influenciar. Até aí, nenhum problema: você pode começar a gritar que o Estado é laico e eu te respondo que ser laico não é ser ateu. O Estado não pode impedir liberdade de culto e crença, nem promover leis cuja base seja justificada por um pretexto religioso. Mas nada o impede de ter um viés religioso, cujos ensinamentos possam dar um norte à sociedade. No entanto, acerca desse grupo resta saber: seria essa realmente a intenção deles ou apenas um uso para que consigam ainda mais poder? Nas palavras do próprio Jeff Sharlet: “ou este é o grupo mais ingênuo do qual já ouvi falar ou é o mais cínico de todos”.

O que se segue nos próximos episódios, para nossa surpresa (ou não), é uma onda de lideranças com pontos muito semelhantes em suas propostas sendo eleitas mundo afora. O ataque à comunidade lgbtqi+ com leis proibitivas de casamento ou pena de execução (como no caso da Nigéria), sendo, inclusive, condenado por vários outros ativistas evangélicos; uma direita tradicionalista em defesa da família e dos bons costumes; presidentes eleitos sendo abençoados por orações de seus aliados em cadeia nacional. Qualquer coisa que estou a falar não soa familiar? Pois é. Até mesmo o ex-inimigo, a Rússia de Putin, surge como um desses estadistas que flerta com essa orientação: a proximidade dele com a Igreja Ortodoxa Russa e a luta pelo tradicionalismo nas famílias. O fenômeno mundial contemplado diariamente nos noticiários são coincidências, um movimento natural ou a ação daquele poder acima do poder? A teoria da conspiração aqui passa a deixar seus tons de lenda urbana e começa a ganhar um status de factual em suas proposições.


Uma das teses principais do filme, mais do que qualquer tipo de denúncia ou constatação, é o que sugere seu título em português: estaria a democracia do mundo ameaçada pela ação de um grupo que se pretende secreto saído dos Estados Unidos da América? Mas, talvez o que mais importa mesmo em nossas perguntas é a reflexão supracitada de Sharlet: seria este o grupo mais ingênuo ou o mais cínico de todos? Jesus prega o Amor e alguém governar de acordo com a Palavra de Deus não poderia trazer prejuízo a ninguém. Seria impossível. No entanto, como diz a Bíblia em vários momentos, utilizar-se da sua Palavra de forma distorcida é garantir lugar nas trevas.

Fonte: metafictions

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domingo, 11 de agosto de 2019

Governo turco destrói mais de 300 mil livros.



Governo turco reprime qualquer coisa ligada a Fethullah Gülen, o clérigo muçulmano acusado pela tentativa de golpe de 2016. Até a existência da palavra 'Pensilvânia', onde Gülen mora nos EUA, é motivo para se destruir um livro.

A Turquia continua sofrendo com a censura e repressão estatal. Em 2016, em resposta a uma suposta tentativa de golpe, Recep Tayyip Erdoğan, o presidente do país, determinou a prisão de 50 mil pessoas, dentre eles, 180 eram jornalistas e escritores. Naquele mesmo ano, Heinrich Riethmüller, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, leu, durante a cerimônia de abertura oficial da feira de Frankfurt, uma carta escrita pela romancista turca Asli Erdoğan, presa pelo regime do presidente Tayyip Erdoğan. Nesta semana, o The Guardian noticiou que mais de 300 mil livros foram removidos de escolas e bibliotecas turcas e destruídos desde a tentativa de golpe de 2016. O ministro da Educação da Turquia, Ziya Selçuk, disse que o governo está reprimindo qualquer coisa ligada a Fethullah Gülen, o clérigo muçulmano norte-americano acusado pelo país de instigar o golpe militar fracassado há três anos. Para se ter uma ideia da censura realizada, um livro de matemática foi banido por apresentar as iniciais de Gülen em uma pergunta e o jornal turco BirGün informou que 1,8 milhão de livros didáticos foram destruídos e reimpressos por conterem a palavra "Pensilvânia", censurada porque é onde Gülen vive em um complexo protegido. Em apenas três anos, 29 editoras e 200 meios de comunicação e organizações de publicação foram fechados, 80 escritores foram submetidos a investigações e 5.822 acadêmicos foram demitidos de 118 universidades públicas.

A história tende a se repetir nas piores e mais sombrias partes. Quem não lembra deste mesmo acontecimento há algumas décadas atrás.
 

domingo, 4 de agosto de 2019

Livro Eleanor & Park - Rainbow Rowell


Eleanor & Park é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e “grande” (ela pensa em si própria como gorda), é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de uma certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação da família impede que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma história sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo.