domingo, 28 de setembro de 2025

Alchemised - SenLinYu


Livro de SenLinYu narra a história sombria de uma mulher sem memórias tentando sobreviver em um mundo dominado por necromancia e seres malignos.

Helena Marino é uma prisioneira de guerra ― e também da própria mente. Outrora considerada uma alquimista de futuro promissor, ela viu o mundo ruir e seus poderes se esvaírem quando seus aliados foram brutalmente assassinados. Após um longo e violento conflito, Paladia tem uma nova classe dominante, formada por guildas corruptas e necromantes depravados. Suas criaturas vis e mortas-vivas foram essenciais para a vitória na guerra, e o uso da necromancia se tornou o modus operandi. Os novos governantes mantêm Helena em cativeiro. De acordo com os registros, ela era uma figura de pouca importância na hierarquia. Mas, quando seus carcereiros descobrem que a memória da prisioneira foi alterada, surge a dúvida se o papel dela na Resistência era tão irrelevante quanto se imaginava. Talvez o esquecimento esconda algo poderoso, o gatilho para uma ofensiva derradeira. Para revelar o que as profundezas sombrias de sua memória ocultam, a mulher é enviada ao comando de um dos mais implacáveis necromantes do novo mundo. Aprisionada em meio a ruínas, Helena luta para proteger seu passado perdido e preservar os últimos resquícios de quem foi um dia. Mas o martírio está apenas começando, pois sua prisão e seu captor têm os próprios segredos… E ela terá que desvendá-los. Custe o que custar.

"... A guerra acabou.

O que acha que está protegendo

dentro desse seu cérebro?

Holdfast está morto.

A Chama Eterna foi extinta.

Não há mais ninguém para você salvar.”

domingo, 21 de setembro de 2025

O idiota - Fiódor Dostoiévski - Edição especial


Escrito originalmente em formato de folhetim, O idiota narra as desventuras do jovem epilético príncipe Míchkin. Dotado de uma pureza ímpar e expressando-se com sinceridade, este personagem choca-se com uma Rússia secular e desencantada, distante dos ideais cristãos de generosidade e movida por uma busca incessante por dinheiro e status.

Ao retornar a São Petersburgo após um tratamento médico, Míchkin envolve-se em triângulos amorosos da alta sociedade, centrados na disputa pela atenção de Nastássia Filíppovna, uma beldade multifacetada, muitas vezes interpretada como louca pelos homens que a cortejam. Apesar das boas intenções, a presença do príncipe provoca uma série de conflitos que dinamitam aquele círculo social dependente de aparências.

Em parte romance de ideias, em parte romance de costumes, que trata do nacionalismo russo e de um contexto sócio-histórico específico, a prosa de Dostoiévski reluz, em especial, ao contrapor o idealismo de Míchkin com o niilismo individualista de Ippolit, um rapaz tuberculoso despreocupado com a ética de suas ações.

Este livro oferece a análise severa e complexa que o mestre russo faz de uma sociedade moderna que perdeu seu norte moral ― crítica que se mostra relevante até hoje, no capitalismo tardio. Afinal, que espaço há para as boas ações, a compaixão e a caridade em um mundo onde o dinheiro é a força motriz? As agruras do protagonista representam com agudeza a visão desoladora que Dostoiévski tinha de seu entorno, o que levou o escritor a defender as ideias contidas no romance até o fim de sua vida.

“Nada fica fora do terreno de Dostoiévski (…) Tirando Shakespeare, não existe leitura mais interessante.” ― Virginia Woolf.

domingo, 14 de setembro de 2025

Gulag: Uma história dos campos de prisioneiros soviéticos - Anne Applebaum


A obra, escrita pela jornalista e historiadora Anne Applebaum, é uma das mais abrangentes análises sobre o sistema de repressão e encarceramento que marcou a União Soviética ao longo do século XX. Publicado em 2003, o livro se apoia em extensa pesquisa documental, entrevistas com sobreviventes e uma cuidadosa reconstrução histórica, resultando em uma narrativa que ultrapassa a mera descrição factual e assume um papel de denúncia e reflexão sobre os limites da violência política.

O ponto central da obra está na investigação do Gulag, a rede de campos de trabalhos forçados criada e mantida pelo regime soviético desde Lênin e expandida brutalmente durante o governo de Josef Stálin. Applebaum demonstra que o Gulag não foi um episódio isolado da história soviética, mas um instrumento sistemático de controle social, econômico e político, capaz de moldar a vida de milhões de pessoas, tanto dentro como fora dos campos.

Do ponto de vista analítico, Applebaum constrói sua narrativa a partir de testemunhos humanos. Sobreviventes relatam o cotidiano marcado pela fome, doenças, frio extremo e abusos psicológicos e físicos. Esses relatos, entrelaçados com documentos oficiais, criam uma imagem vívida da vida nos campos e reforçam a dimensão trágica da experiência. Ao dar voz às vítimas, a obra se aproxima de outras grandes investigações históricas sobre sistemas de opressão, como as análises sobre o Holocausto, estabelecendo um diálogo sobre a memória do século XX.

No entanto, a importância do livro não reside apenas na documentação do passado. Applebaum ressalta o silêncio histórico que envolveu o Gulag durante décadas, tanto dentro da União Soviética quanto no Ocidente. O apagamento da memória coletiva, a negação das vítimas e a dificuldade de reconhecer a magnitude da tragédia tornam-se temas centrais da reflexão. Ao recuperar essa história, a autora desafia a complacência e expõe a necessidade de lembrar para não repetir.

Em termos de impacto, Gulag: Uma história dos campos de prisioneiros soviéticos é um marco na historiografia contemporânea por unir rigor acadêmico e narrativa acessível, tornando-se referência para compreender a violência política no século XX. A obra não se limita a um estudo do regime soviético, mas levanta questões universais sobre o poder, a arbitrariedade da lei e a fragilidade da liberdade humana diante de sistemas totalitários.

domingo, 7 de setembro de 2025

Assassinos da lua das flores - David Grann


Escrito pelo jornalista investigativo David Grann, é uma obra que transcende os limites de uma simples narrativa histórica. Publicado originalmente em 2017, ele se insere no campo da não ficção ao reconstruir uma série de crimes que abalaram a comunidade indígena Osage, em Oklahoma, nos anos 1920. Mais do que relatar assassinatos, o autor explora temas universais como ganância, racismo estrutural, colonização e a fragilidade da justiça em sociedades desiguais.

A história gira em torno da tribo Osage, que foram sistematicamente assassinados após a descoberta de petróleo em suas terras. Os indígenas, que até então viviam marginalizados, tornaram-se momentaneamente o povo mais rico per capita do mundo devido às royalties do petróleo. Esse súbito enriquecimento despertou a cobiça de empresários, especuladores e, sobretudo, de indivíduos dispostos a tudo para se apossar de suas riquezas. A narrativa de Grann expõe como uma onda de crimes foi orquestrada contra os Osage, frequentemente com a cumplicidade das autoridades locais.

Nesse contexto, surge o papel do recém-criado FBI. A investigação desses assassinatos marcou um dos primeiros grandes casos da agência, sob a liderança de J. Edgar Hoover. Grann evidencia como a solução parcial dos crimes contribuiu para consolidar a imagem do FBI como uma instituição federal capaz de enfrentar o crime organizado e a corrupção local. Entretanto, o livro não deixa de ressaltar as limitações dessa investigação, pois muitos crimes permaneceram impunes e diversos cúmplices nunca foram julgados.

Do ponto de vista literário, Assassinos da Lua das Flores combina o rigor da pesquisa jornalística com a fluidez de uma narrativa quase romanesca. Grann recorre a documentos oficiais, relatos orais e arquivos históricos para reconstruir a trama, mas escreve com ritmo e tensão dignos de um thriller policial. O resultado é uma obra envolvente e perturbadora, que provoca no leitor tanto indignação moral quanto reflexão crítica.

O grande mérito está em recuperar uma parte esquecida da história norte-americana e dar voz às vítimas indígenas, cuja memória muitas vezes foi silenciada. Ele expõe, de maneira contundente, como a ganância e o preconceito resultaram em uma série de injustiças que ecoam até hoje. Além disso, mostra como a fundação de instituições modernas, como o FBI, está profundamente marcada por conflitos de poder, interesses econômicos e desigualdades sociais.

Em suma, é uma obra que transcende o relato histórico e se torna um espelho da sociedade contemporânea. Ao revelar a violência sofrida pelos Osage, David Grann nos convida a refletir sobre o peso do racismo, da exploração e da impunidade na formação das estruturas de poder. Assim, a dissertação que emerge da leitura do livro é clara: a história não pode ser esquecida, e a justiça só pode ser plena quando se reconhece a dignidade de todos os povos.