Na sátira futurista e sombria de Brandon Cronenberg, 'Antiviral', o
tempo em que as celebridades davam autógrafos há muito não existe mais.
Inspirado num sonho que teve durante uma gripe forte, em 2004, o
primeiro longa de Cronenberg mergulha o público num mundo que adoece por
causa do vício nas celebridades. Nesse universo bizarro, fãs pagam
milhões de dólares para serem infectados com vírus colhidos de astros
doentes ‒ e fazem de tudo para possuir a carne clonada dos ricos e
famosos e interagir mais 'intimamente' com os heróis de Hollywood.
Por
mais estarrecedor que pareça, esse laboratório de perversidade faz todo
o sentido do mundo para o filho de 33 anos do aclamado cineasta David
Cronenberg – o homem responsável por clássicos como 'Videodrome - A
Síndrome do Vídeo', 'Scanners - Sua Mente Pode Destruir' e 'Calafrios'.
'Depois
de ter esse sonho febril, fiquei obcecado com a ideia de que alguma
coisa do corpo de outra pessoa tinha se instalado dentro de mim e estava
me deixando doente', disse Cronenberg no Festival de Cinema de Toronto
de 2012. 'Quanto mais eu pensava sobre essa intimidade biológica
estranha que compartilhamos quando adoecemos, mais eu sabia que tinha
encontrado uma metáfora que podia usar para discutir os custos sociais e
morais da idolatria às celebridades ao extremo – até ao ponto de ser
grotesca e perigosa.'
Por mais estranha que seja, a fascinante
história de Cronenberg se concentra em Syd March (o astro de 'X-Men:
Primeira Classe', Caleb Landry Jones), funcionário de uma clínica que
passa os dias comprando lotes de vírus de celebridades doentes para
injetá-los nos clientes.
'Não estou querendo prever o apocalipse;
além do mais, se o pessoal quiser o meu DNA um dia, maravilha. Dou até
de graça', brinca Cronenberg. 'Só estou levando essa mania de hoje de
'entrar' no mundo dos famosos um pouco mais além.'
Para reforçar o
salário que ganha na clínica, March contrabandeia os vírus no próprio
corpo para vendê-los no mercado negro. O plano, além de dar certo, se
mostra lucrativo para todos os envolvidos ‒ mas tudo muda depois que ele
se injeta uma versão rara que acaba matando a nova queridinha de
Hollywood (Sarah Gadon).
A versão final – seis minutos mais curta do que a exibida no Festival
de Cannes 2012 – é uma explosão visceral, muitas vezes nojenta, de
visões, sons e imaginação. De fato, alguns críticos compararam
'Antiviral' aos primeiros filmes do Cronenberg pai ‒ detalhe com o qual o
Cronenberg filho não concorda.
'Meu pai fez filmes incríveis e
até entendo quem diga que a fruta não caiu longe da árvore, mas acho que
o meu trabalho foi influenciado por outras pessoas: Saul Bellow, Kurt
Vonnegut, Franz Kafka. Não apostei no cinema para ser cópia carbono do
meu pai', diz ele.
Quando jovem, em Toronto, Cronenberg não se
interessava por filmes. 'Durante muito tempo nem pensei no assunto',
confessa ele. Desde o fim da adolescência e até os vinte e poucos, ele
escrevia e estudava Filosofia e artes visuais, mas ainda sentia que
faltava alguma coisa.
'Em termos criativos, minha vida era muito
dispersa', conta. 'Não sabia bem o que queria fazer e estava chegando
numa idade em que precisava tomar decisões e arrumar um emprego.'
Em
2004, aos 24 anos, Cronenberg se matriculou no curso de cinema da
Universidade Ryerson, em Toronto, e começou a se aprofundar na forma de
arte que tinha desprezado a vida inteira.
'Em vez de continuar
fugindo, finalmente percebi que o cinema poderia reunir todos os meus
interesses criativos de uma forma totalmente nova ‒ e é claro que eu não
ia perder essa chance só por causa das ideias preconcebidas dos algumas
pessoas sobre mim', declara.
Ainda assim, o cineasta é grato pelas lições que aprendeu vendo o pai construir a própria carreira.
'Nada
me surpreende nessa indústria. Há muitos altos e baixos. A única coisa
que me espantou foi a facilidade com que consegui concluir o primeiro
filme. Não sei como será o próximo, mas sinceramente espero dar a mesma
sorte', conclui ele.
Fonte:msn.com.br
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