Artífice do assassinato em massa de mais de 5 milhões de judeus em Auschwitz nos anos finais da Segunda Guerra, o oficial SS Rudolf Lang (codinome de Rudolf Höss) narra sua história em primeira pessoa, da infância infeliz, marcada pelos rigores de uma educação religiosa e pelos abusos de um pai fanático, até seu julgamento no tribunal de Nuremberg, onde é condenado à morte. Escrito com base nos prontuários do psicólogo que atendeu o réu (Adolf Eichmann) na prisão, o romance de Robert Merle desafiou tabus e enfrentou a ira dos historiadores e da crítica literária da época. Sua intenção, no entanto, fica clara para o leitor mais contemporâneo à medida que a frieza do protagonista, suas escolhas e a maneira como racionaliza seus atos são filtrados pela lupa do escritor, abrindo um amplo leque analítico. A obra remexe as entranhas psicossociais que entram, na rotina de um indivíduo perturbado, metódico e obediente, a lógica do extermínio em escala industrial.
Exatamente setenta e um anos após sua aparição, A morte é meu ofício, em sua primeira edição brasileira, é leitura fundamental numa era em que a morte volta a ser exaltada pela máquina unificada do discurso de ódio, onde Rudolfs contemporâneos são criados diariamente. Ao dar voz ao carrasco, Merle joga luzes clarividentes sobre a gênese e a experiência do mal. Ao decifrar seus mecanismos, que se revelam universais e atemporais, oferece munição à resistência e apresenta as armas indispensáveis ao bom combate.
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