domingo, 29 de setembro de 2024
Sovietistão - Erika Fatland
Com o colapso da União Soviética em 1991, as cinco repúblicas da Ásia Central até então controladas por Moscou obtiveram a própria independência.
Ao longo de setenta anos de domínio soviético, Turcomenistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão, os países que, das cadeias de montanhas mais altas do mundo ao deserto, antes marcavam a rota da Rota da Seda, de alguma forma passaram diretamente da Idade Média ao século XX. E após vinte e cinco anos de autonomia, todas as cinco nações ainda parecem estar em busca da pró pria identidade, estreitas entre o leste e o oeste e entre o velho e o novo, no centro da Ásia, cercadas por grandes potências como a Rússia e a China, ou por vizinhos inquietos como o Irã e o Afeganistão.
Os contrastes as unem: décadas de domínio soviético coexistem com administrações locais, a exorbitante riqueza do gás e do petróleo com a mais extrema pobreza, o culto à personalidade com costumes arcaicos ainda vitais.
Sovietistão é uma jornada inesquecível pela Ásia Central, uma das regiões mais misteriosas e carregadas de história do mundo, onde as paisagens mais impressionantes da antiga Rota da Seda se sobrepõem às ruínas da utopia comunista.
Complementando
A obra mistura elementos de reportagem, história e diário de viagem, proporcionando uma visão abrangente sobre como esses países enfrentaram os desafios do pós-soviético e mantêm suas identidades em meio a influências externas.
Fatland explora as heranças culturais e políticas da era soviética, as autocracias modernas que governam a região e as tradições únicas de cada país. Ela também aborda questões como direitos humanos, corrupção, a complexa relação com o islã e as peculiaridades geográficas dessas nações.
O livro é uma combinação de observações pessoais e análises históricas, que trazem à tona tanto os contrastes como as semelhanças entre esses cinco países que compartilham um passado comum, mas seguiram caminhos distintos.
O enredo oferece uma rica e detalhada narrativa sobre uma região frequentemente negligenciada, mas de grande importância geopolítica. Ao longo de sua jornada pelos cinco países da Ásia Central, a autora explora as diversas dinâmicas culturais, sociais e políticas, enquanto investiga o impacto duradouro do regime soviético nessas nações, agora independentes.
Cada país apresenta uma história única de luta e adaptação no período pós-soviético. No Cazaquistão, Fatland testemunha o rápido desenvolvimento econômico alimentado por seus vastos recursos naturais, ao mesmo tempo que observa o controle rígido do governo autoritário. No Turcomenistão, ela descreve a opressiva ditadura de culto à personalidade e a isolação internacional do país. Já no Uzbequistão, Fatland observa a herança histórica da Rota da Seda e como o autoritarismo e a repressão política ainda moldam a vida cotidiana.
Quirguistão e Tadjiquistão, os dois países mais pobres da região, enfrentam grandes desafios econômicos e políticos. No Quirguistão, Fatland explora as revoluções recentes e a tentativa de estabelecer uma democracia, enquanto no Tadjiquistão, ela se aprofunda nas cicatrizes deixadas por uma devastadora guerra civil que ainda afeta a população.
Além da política, a autora retrata a vida das pessoas comuns, contando histórias de indivíduos que lidam com as contradições de viver em sociedades que, embora marcadas pelo autoritarismo, também preservam antigas tradições e práticas culturais. Fatland consegue humanizar a região, mostrando como o legado soviético ainda pesa sobre as novas gerações, mas também destacando as profundas raízes culturais e a resiliência de seus habitantes.
Um relato fascinante e profundamente informativo que, além de narrar a trajetória histórica e política da Ásia Central, também discute os dilemas contemporâneos dessas sociedades, oferecendo uma visão rara de uma parte do mundo que continua a desempenhar um papel estratégico na política global.
domingo, 22 de setembro de 2024
Um conto para ser tempo - Ruth Ozeki.
Dentro, há vários objetos desconexos, como um velho relógio de pulso, algumas cartas amareladas e o que aparenta ser um diário escrito por uma garota japonesa...
A cada página lida, Ruth se aprofunda cada vez mais nas histórias e é levada a um passado à beira do colapso. Em meio aos relatos escritos por mãos sôfregas e ansiosas, ela tem o presente e o futuro transformados conforme se aprofunda no abismo da jovem. Ainda há tempo para reconciliar o futuro de um passado condenado?
Em Um conto para ser tempo, Ruth Ozeki explora as relações entre leitor e escritor, passado e presente, fato e ficção, história e mito, e a essência do próprio tempo, apresentando um enredo deslumbrante sobre humanidade, afeto e pertencimento.
domingo, 1 de setembro de 2024
A lanterna das memórias perdidas - Sanaka Hiiragi
A lanterna das memórias perdidas é um romance japonês profundo e comovente a respeito do que é realmente importante na vida e do encanto de reviver uma última vez seus melhores momentos.
Num estúdio fotográfico onde um antigo relógio de parede não funciona mais, Hirasaka gentilmente recepciona seus visitantes, um por um, em um confortável sofá de couro, lhes oferece a bebida de sua preferência e revela o que os aguarda.
Pegos de surpresa, os visitantes descobrem que estão em um ponto de transição entre a vida e a morte e recebem uma grande quantidade de fotos — correspondentes às suas lembranças, onde cada fotografia representa um dia de suas vidas — e a incumbência de selecionar uma para cada ano. Com essa missão, ganham a oportunidade ímpar de revisitar sua memória mais preciosa e tirar novamente a foto do momento em questão — incapazes de fazer qualquer coisa para alterá-lo e invisíveis para o mundo. Forma-se então uma espécie de lanterna giratória de memórias com as fotos dos momentos mais significativos que viveram, proporcionando a eles a chance única de assistir à própria vida passar diante de seus olhos.
Dentre tantas, conhecemos três pessoas que por ali passam, suas vidas entrelaçadas por amor, empatia e resiliência: uma professora de noventa e dois anos, um membro da Yakuza de quarenta e sete anos, e uma criança.
Diante das diversas opções de memórias a serem revisitadas, qual cada um escolherá? E por que Hirasaka, o único que não tem lembranças da própria vida e que possui apenas uma foto, é o responsável por cuidar desse estúdio?
Em meio a esses e outros mistérios, tudo que se sabe é que as fotografias guardam uma poderosa força invisível.
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