domingo, 21 de maio de 2023

Eu sou o último judeu: Treblinka (1942-1943) - Chil Rajchman.


Estamos preocupados, pois o trem fez meia-volta. Olhamos uns para os outros. O que está acontecendo? Constato que estamos perdidos. É o fim."? Chil Rajchman, em um dos muitos momentos em que achou que seria assassinado.

Nenhum campo de extermínio foi tão longe na racionalização do assassinato em massa quanto Treblinka. Lá, cerca de 750 mil judeus foram mortos. Apenas 57 sobreviveram. Chil Rajchman foi um deles. Por dez meses, sobreviveu ao absoluto terror. Carregou cadáveres em decomposição. Extraiu dentes dos mortos para que os nazistas aproveitassem o ouro, lavando-os em vasilhas cujos restos de água sanguinolenta mataram a sede de outros prisioneiros. Testemunhou suicídios, empalamentos, centenas de execuções. Foi chicoteado diariamente, teve tifo, sarna. Em agosto de 1943, Chil e outros prisioneiros conseguiram pôr em prática um plano de revolta. Ele foi um dos últimos judeus a escapar de Treblinka.

Seu relato avassalador e detalhado, escrito ainda durante a guerra, vem a público acompanhado por fotografias, mapas e a planta do campo de extermínio. Um importante testemunho do que preferíamos esquecer, mas não podemos.

A obra não tem a mesma inspiração da escrita de um Primo Levi ou de um Elie Wiesel. Não, a escrita de Rajchman é muito menos literária e muito mais descritiva, muito mais pragmática, quase ao nível jornalístico, uma espécie de documentário do abominável terror testemunhado. Ler esta obra é ser constantemente violentado pelos pormenores dos horrores do Holocausto nazi, contados com tal minúcia que chega a criar no leitor imagens visuais das torturas e dos bárbaros assassínios descritos.

O jornal francês Libération escreveu o seguinte sobre este livro: "De todos os textos sobre a máquina de extermínio nazi, este é um dos mais excepcionais". Chil Rajchman, sobrevivente do terrível campo de extermínio de Treblinka (Polónia), guardou num caderno as suas negras memórias da experiência por que passou. E só aceitou publicá-las em 2004, após a sua morte.

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