Este livro nos conta a história do antigo culto à Grande Deusa e como o rito às deidades femininas foi suprimido ao longo dos séculos.
Antes de publicar este livro, em 1976, Merlin Stone passou quase uma década pesquisando as deusas na Antiguidade, período em que a vida social, política, econômica e cultural de muitos povos girava em torno da mulher. E como a religião tende a espelhar a figura dominante na sociedade que a pratica, a deidade feminina foi representada diversas vezes por esculturas e pinturas encontradas até hoje em vários sítios arqueológicos.
Chamada por diferentes nomes, a Deusa contava com suas sacerdotisas que lideravam e guerreavam, eram poligâmicas e detinham o conhecimento sobre tratamentos medicinais naturais. No decorrer dos séculos, porém, novos grupos hegemônicos passaram a ver essas mulheres como prostitutas e bruxas, seus feitos foram reduzidos a lendas e a cultura da divindade feminina foi sufocada.
Quando Deus era mulher afirma que, apesar de a cultura matriarcal e matrilinear ter ruído, ela não só perdura como se impõe ao patriarcado e resiste a ele, mostrando-se mais atual do que nunca.
Resenha
Parafraseando a escritora equatoriana María Fernanda Ampuero em um de seus contos1, “ser mulher é engolir abismos”. Desde pequenas, mulheres são ensinadas a saborearem caladas as profundezas da insegurança quanto à natureza dos próprios corpos e da necessidade de serem boas em tudo, mas de não se destacarem muito mais do que os homens.
Enquanto se desdobram em várias para conseguirem concluir as dezenas de tarefas corriqueiras, ainda têm de lidar com as violências de gênero que uma sociedade misógina e patriarcal não só pratica como também influência outras pessoas a perpetuarem — mas nem sempre foi assim.
No princípio, havia a Deusa — e somente Ela.
Há quem diga que, desde que o mundo é mundo, o Deus cristão, grafado com “D” maiúsculo, onipotente e onipresente — assim como Zeus, Osíris e demais divindades masculinas —, existia e era cultuado entre seus adoradores, mas não foi bem isto que Merlin descobriu: datando do início do período Neolítico (7000 a.C.), no despertar do desenvolvimento humano, Deus era, sim, mulher.
A Grande Deusa, também conhecida como a Divina Ancestral, era quem nutria o mundo em toda a glória das descobertas no alvorecer dos tempos, momento histórico em que os mistérios do surgimento do dia e da noite, da existência das colheitas e dos demais ciclos de vida e morte começavam a ser desvendados.Uma figura marcante e muito conhecida quando relembramos as aparições da Deusa na Antiguidade é a estátua da Vênus de Willendorf, localizada na Áustria, datando do Paleolítico Superior (cerca de 25000 a.C.). A imagem da mulher com grandes seios, nádegas e barriga é vista até hoje como um dos símbolos mais marcantes Dela e de Sua relação com a fertilidade celebrada na época, um dos vieses de seu culto.
Segundo Merlin, o surgimento Dela remonta à memória que os habitantes do Neolítico tinham de suas ancestrais mulheres, uma vez que aspectos ligados a estas parentes, como o ato de sonhar com elas após um falecimento, por exemplo, era algo lido como um contato sobrenatural e inexplicável — logo, divino.
Juntando-se isto ao fato de que mulheres são capazes de dar à luz havia, portanto, diversas razões para que elas se tornassem o centro da Antiga Religião, cuja figura principal era a Deusa. E em uma sociedade que cultua uma figura feminina, todas as outras figuras femininas são vistas como sagradas.
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