Na tarde em que o príncipe dom Pedro chegou às margens do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, o Brasil estava empanturrado de escravidão. Comprar e vender gente era o maior negócio do novo país independente. Homens e mulheres escravizados perfaziam mais de um terço do total de habitantes, estimado em 4,7 milhões de pessoas. Outro terço era composto por negros forros e mestiços de origem africana – uma população pobre, analfabeta e carente de tudo, dominada pela minoria branca. Os indígenas, já dizimados por guerras, doenças e invasão de seus territórios, sequer apareciam nas estatísticas.
O último livro da trilogia Escravidão é dedicado ao século XIX; à Independência; ao Primeiro e ao Segundo Reinados; ao movimento abolicionista, que resultou na Lei Áurea de 13 de maio de 1888; e ao legado da escravidão, que ainda hoje emperra a caminhada dos brasileiros em direção ao futuro. A escravidão era, na definição de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, "uma doença que contaminava e roía as entranhas da sociedade brasileira". Disseminado por todo o território, o escravismo perpassava todas as atividades e todas as classes sociais. Maior território escravista da América em 1822, o Brasil assim se manteria até o final do século XIX, com sua rotina pautada pelo chicote e pela violência contra homens e mulheres escravizados.
Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a escravidão. Conhecê-lo ajuda a explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também o que seremos daqui para a frente. Em um texto impactante e ricamente ilustrado com imagens e gráficos, Laurentino Gomes lança o terceiro volume de sua obra, resultado de 6 anos de pesquisas, que incluíram viagens por 12 países e 3 continentes.
Opinião
Laurentino definitivamente registra com excepcional talento seu nome na historiografia brasileira, uma vez ser ininteligível estudar um dos temas mais importantes da história do Brasil, sem a leitura desta sua atual e final trilogia.A primorosa edição oferece quase 600 páginas uma leitura completa e apurada do período da escravidão, com rico material fotográfico, completa bibliografia e 29 capítulos a revelar que "comprar e vender gente era o maior negócio do Brasil", num texto que somente com profunda pesquisa e rigor acadêmico o autor oferta ao leitor o melhor de seu trabalho.
Neste ano do Bicentenário da Independência do Brasil, a leitura de Escravidão é essencial para entendermos como chegamos até aqui e o que é ainda necessário fazer para um dia sermos verdadeiramente uma sociedade democrática e plural.
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